O Fed, o banco central americano, manteve nesta quarta, 31, as taxas básicas de juros no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano. Em comunicado, a autoridade monetária sinalizou que deve manter o aperto monetário. "O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês, equivalente ao Copom brasileiro) não espera que seja apropriado reduzir juros até que tenha ganhado mais confiança de que a inflação está voltando de forma sustentada aos 2% ao ano", disse o comunicado oficial do Fed.
Após o anúncio da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que os técnicos vão aguardar novos recuos dos preços antes de começar a baixar os juros. Ele disse "não achar provável" que a autoridade monetária comece a cortar as taxas na próxima reunião, marcada para os dias 19 e 20 de março, como previa o mercado no fim do ano passado. O nível atual dos juros é o maior em pelo menos duas décadas.
Em dezembro, os diretores do Fed informaram que poderiam reduzir os juros em 0,75 ponto porcentual ao longo de 2024. As projeções, porém, não especificavam a partir de quando isso começaria a ocorrer – o movimento ainda depende da rapidez com que a inflação irá diminuir e do ritmo que a economia vai crescer. O mercado agora avalia que os cortes poderão ocorrer a partir de maio ou junho.
"Acreditamos que a nossa taxa-base está provavelmente no seu máximo para esse ciclo de aperto (monetário) e que, se a economia evoluir como esperado, provavelmente será apropriado começar a redução (dos juros) em algum momento deste ano", disse Powell, sem dar indício de quando os cortes podem começar.
Ao justificar a decisão, o Federal Reserve argumentou que há de fato uma desaceleração da inflação, porém o índice continua elevado para os padrões do país, o que traz incerteza às perspectivas econômicas, tornando-se um ponto de atenção para os próximos meses. A taxa anual de inflação, fechada em dezembro, ficou em 2,7%. Nos últimos seis meses terminados em dezembro de 2023, os custos de alimentos e energia caíram para uma taxa anual de 1,9% – esse índice era de 2,6% no mesmo período em 2022.
No comunicado de ontem, o Fed removeu o trecho que, em notas anteriores, afirmava que a autoridade monetária levaria em conta os efeitos das atuais taxas para "determinar a extensão na qual um aperto adicional poderia ser necessário" – uma pista de que não haverá uma nova alta.
Os reajustes das taxas básicas de juros nos EUA começaram em março de 2022, quando elas estavam no intervalo de 0% a 0,25%. Desde então, a instituição elevou as taxas 11 vezes para conter os avanços da inflação crescente e estabilizar a economia – em um movimento agressivo visto poucas vezes na histórica econômica do país. Desde julho do ano passado, não há alteração no intervalo dos índices.
<b>Equilíbrio</b>
Conforme especialistas, Powell e os técnicos da autoridade monetária tentam encontrar um equilíbrio delicado. A avaliação é de que o Fed não quer manter as taxas de juros tão altas por muito tempo a ponto de comprometer o crescimento do país, mas também teme a volta da inflação. Economistas afirmam que as cadeias de suprimentos, ainda como resquício da pandemia, e os conflitos trazem impactos nos preços.
"O comitê (Fomc) considera que os riscos para alcançar os seus objetivos de (equilíbrio do nível de) emprego e inflação estão evoluindo", afirmou o Fed no comunicado. "(Mas) As perspectivas econômicas são incertas e o comitê continua muito atento aos riscos de inflação."
<b>Expectativas</b>
Com a nova manutenção da taxa básica de juros, a expectativa do mercado é de que o ciclo de queda tenha início nos próximos meses. A indefinição, porém, gera incerteza entre os especialistas e há agora uma perspectiva menos assertiva do que no final de 2023.
Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, as antigas apostas por um corte de juros no próximo mês perderam força no mercado e hoje estão divididas com expectativas para um começo de ciclo de queda mais tardio, em maio ou junho. Ele diz que o evento mais relevante da semana que pode nortear, de fato, os rumos da economia nos próximos meses nos EUA, ocorre amanhã, com a divulgação de dados sobre criação de vagas, desemprego e salários.
Blerina Uruci, economista-chefe para os EUA da T. Rowe Price, disse que mantém a aposta de corte para o próximo mês. "Até a reunião de março, o Fed receberá mais sinais dos dados de inflação e terá a sensação de que houve um progresso. Acredito que há desaceleração suficiente no mercado de trabalho para que eles (comitê do Fed) se sintam confortáveis (para baixar os juros)."
No entanto, para Subadra Rajappa, chefe de estratégia nos EUA do Société Générale, um banco francês, "o Fed provavelmente está avaliando que não há pressa, que não há necessidade de se apressar para fazer o corte das taxas". "É por isso que os mercados começaram a questionar a ideia de que haveria um corte das taxas de março." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>