Com os negócios entre editores encerrados na sexta-feira, 10, a Feira do Livro de Frankfurt, como de hábito, abre suas portas ao público no fim de semana. O resultado são corredores mais repletos, especialmente de jovens fantasiados de personagens literários, os cosplayers, que não pagam para entrar. Os debates também se tornam menos técnicos. É o momento para se acompanhar encontros com autores, especialmente estrangeiros.
O francês David Foenkinos foi um deles. No sábado, ele lotou a tenda do Ágora, espaço montado ao ar livre e que deverá receber mais eventos a partir do próximo ano. Com uma discreta, porém indisfarçável, irritação pelo desconhecimento do mediador sobre sua obra, ele buscou agradar à plateia ao revelar seu interesse pela Alemanha, onde veio lançar a tradução de La Tête de lEmploi, livro que escreveu inspirado na crise europeia.
“A língua de seu país é a mais erótica do mundo. A musicalidade é muito sensual”, justificou ele, modificando ligeiramente a opinião depois de ouvir no idioma local a leitura do primeiro capítulo de seu livro feita pelo mediador. “Pensando bem, acho que uma mulher falando torna a língua mais erótica.”
A prosa de Foekinos lembra os filmes de Woody Allen: problemas existenciais embalados por um humor agridoce. O livro mostra o desabamento do mundo de Bernard, cinquentão que de repente perde tudo e é obrigado a voltar a morar com os pais. Isso desencadeia uma crise no casal de velhos que, ao final, obriga Bernard a tomar uma atitude. “Gosto quando os personagens se metem em confusões que os fazem a sair da zona de conforto”, disse ele, que se inspirou em uma reportagem de TV.
Autores em busca da fama também aproveitaram a feira. É o caso do brasileiro Fernando Teixeira de Camargo, cuja estreia na literatura fantástica juvenil foi em inglês – Shanti and the Magic Mandala (Shanti e a Mandala Mágica) foi publicada pela inglesa Lodestone Books, selo juvenil da John Hunt Publishing.
“Enviei o argumento para várias editoras, mas eles responderam com interesse”, conta ele, que assina F. T. Camargo. O livro é uma aventura multicultural com abordagem mística e, apesar de recém-lançado, já recebeu a medalha de bronze no prêmio Moonbeam Childrens Book Awards, na categoria Young Adult Fiction – Spirituality.
Camargo lançou seu livro no pavilhão 8 que, a partir do próximo ano, não mais será usado pela feira. A fim de reduzir custos, os organizadores resolveram transferir as editoras ali instaladas (notadamente as de língua inglesa) para o pavilhão 6. Com isso, em 2015, a Feira de Frankfurt contará com quatro pavilhões, além do reservado ao país homenageado. A organização diz que a decisão condiz com a nova realidade do mercado: global, e não mais focado só nas editoras inglesas e americanas.
Outra mudança observada nos últimos anos é que as grandes promessas de best-seller são negociadas antes da feira. Entre os livros vendidos como futuros best-sellers, estão The Girls, de Emma Cline, de 25 anos, que teria sido comprado por mais de US$ 1 milhão (no Brasil, sairá pela Intrínseca), e The Longings of Jende Jonga, da camaronesa de 33 anos Imbolo Mbue, que ficou com a Globo. A catalã Milena Busquets, de 42 anos, fez sucesso na feira com o ainda inédito También Esto Pasará.
Foi notável ainda o aumento do número de expositores da área de tecnologia. Bill Murray, CEO da HarperCollins, segundo maior grupo editorial do mundo, comentou as vantagens e desvantagens da proximidade entre as duas áreas: “No digital, a cada hora temos um novo parceiro, uma nova oferta de produto e novas possibilidades de promoção do livro. Empresas aparecem da noite para o dia, com dinheiro, e logo tentarão entrar no negócio do livro. Temos de estar na frente. Temos de experimentar ideias”. (Colaborou Maria Fernanda Rodrigues)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.