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Feira do Livro de Frankfurt começa com Merkel e Macron

Quando era esperado um discurso político contundente – e condizente com a realidade atual da Europa conservadora e desunida -, o assunto foi a língua, a tradução, o livro. Quando era esperada uma ode ao livro, palavras fortes em defesa da liberdade de expressão, contra o discurso de ódio e de medo. Assim foi a abertura da 69.ª Feira do Livro de Frankfurt no início da noite desta terça-feira, 10, a mais badalada dos últimos tempos, que contou com a presença da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron e forte esquema de segurança.

A França é o país convidado desta edição do evento, e boa parte do frio discurso de Merkel e Macron foi sobre a histórica relação entre os dois países e a importância de um ensino bilíngue, de uma universidade sem barreiras e de intercâmbio para os jovens. E sobre a importância de uma aproximação entre os dois países vizinhos.

“Quem entendeu melhor Baudelaire que Walter Benjamin? Quem entendeu melhor Nietzsche que André Gide?”, comentou Macron. “Este não é um evento só comercial e diplomático. É um lugar central para se manifestar, o momento em que os dois países olham um para o outro – para o que o outro é”, completou.

“Sem cultura, não há Europa”, disse ainda Macron, que, num dos poucos momentos em que comentou assuntos atuais, disse que é preciso “vencer o terrorismo, defender a Europa e enfraquecer o nacionalismo”. E finalizou: “Devemos nos unir contra tudo o que quer nos separar”.

“O livro abre portas, convida a sonhar, expande nossos horizontes. E a literatura, como a política, é mediadora. Ela constrói pontes”, disse Angela Merkel. “Não poder ler todos os livros que você quer faz você lutar para que ninguém mais passe por isso”, comentou, em alusão ao passado da Alemanha.

Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, e Heinrich Riethmüller, presidente da Associação dos Editores e Livreiros da Alemanha, repetiram o discurso da coletiva de imprensa realizada na manhã desta terça-feira, e falaram sobre o papel da literatura, de autores e do mercado editorial como um todo na defesa da democracia, da liberdade de expressão e no entendimento entre as pessoas.

O escritor e dramaturgo canadense de origem libanesa Wajdi Mouawad foi o autor escolhido pela delegação francesa para falar na cerimônia de abertura. Foi uma participação forte. Após a leitura de um texto, ao vivo, a plateia assistiu a uma performance dele em vídeo. Por alguns minutos, ele latiu – e seu latido foi ficando mais e mais raivoso. Ao retomar a palavra, ele começou a falar em árabe. A plateia, que acompanhava a tradução em inglês ou alemão, se agitou, fones caíram. Era apenas ele resgatando a língua da infância, dos seus pais que deixaram o Líbano durante a guerra civil, do seu pai que nunca leu um livro dele ou viu uma peça porque não entenderia o francês.

Mercado

Enquanto os estandes ainda eram montados na manhã desta terça – a feira começa, para valer, nesta quarta-feira, profissionais do mercado editorial estavam reunidos desde as 9h no Business Club para uma manhã de conferências. O lendário agente literário Andrew Wylie abriu os trabalhos falando sobre editar livros numa época de mudanças ideológicas.

“Percebi que as coisas são similares no mundo, mas que temos formas radicalmente diferentes de vê-las. Precisamos incentivar os diferentes pontos de vista. É isso o que o leitor quer”, comentou. Ele citou o trabalho de escritores como Salman Rushdie, Karl Ove Knausgard e Chimamanda Ngozi Adichie, e disse que “autores estão sempre na posição de expressar e de liderar a mudança”.

O monge budista best-seller sul-coreano Haemin Sunim, que já vendeu 3 milhões de cópias de seu livro Coisas que Você Só Vê Quando Desacelera, recém-chegado às livrarias brasileiras pela Sextante, falou sobre as ideias de seu livro aplicadas ao fazer editorial e sobre a vida nas redes sociais.

“Recomendo que devemos voltar ao nosso corpo e viver no modo offline. Leve seus filhos para a natureza, a um jogo de beisebol, à ópera”, disse. Ainda sobre as redes sociais, ele falou sobre a superficialidade das relações, sobre a maior probabilidade de ser interpretado de forma errada, já que é tudo feito por escrito, e sobre a facilidade de atacar o outro, uma vez que não se está cara a cara.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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