A defasagem na reação da renda e do mercado de trabalho em relação à retomada econômica, combinada a um crédito que deve permanecer restrito, indica que o segmento de carros de passeio e utilitários leves – como picapes e vans – será o último a sair da crise, segundo avaliou hoje a direção da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos.
Por outro lado, o mercado de caminhões, o mais afetado no setor durante a recessão, deve ser o primeiro a começar a sair do buraco, no embalo do transporte da safra agrícola e da recuperação econômica, de acordo com os cenários traçados pela associação.
Apesar da nova revisão para baixo de suas previsões ao desempenho deste ano, o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, considerou que o consumo de veículos chegou ao “fundo do poço” e projetou a retomada do crescimento em 2017 – embora a entidade ainda não tenha anunciado quais são suas projeções ao ano que vem.
No mês passado, segundo o executivo, o mercado continuou sendo afetado pela combinação de avanço do desemprego com rigor dos bancos na liberação de crédito. Somou-se a esse quadro a falta de modelos de montadoras que sofreram com falta de peças, comentou o presidente da Fenabrave, numa referência – embora sem mencionar o nome da empresa – à Volkswagen, que foi obrigada a parar a produção por mais de um mês após encerrar contrato com um de seus maiores fornecedores de componentes.
A aprovação de crédito continua numa proporção de apenas três em cada dez pedidos de financiamento de automóveis, disse Alarico. De acordo com balanço apresentado pela Fenabrave, os estoques de veículos parados em pátios de montadoras e concessionárias subiu de 110 mil para 125 mil unidades na passagem de agosto para setembro. O volume é suficiente para 23 dias de venda, um nível considerado baixo para uma indústria que já teve estoques para mais de 50 dias.
Com base na melhora da confiança, na tendência de queda dos juros e na previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% no ano que vem, a perspectiva da Fenabrave é que 2017 seja um ano melhor ao mercado automotivo.
Tereza Fernandez, responsável pela área setorial da MB Associados – a consultoria que assessora a entidade em suas previsões -, disse que uma moderação na curva de queda nas vendas de veículos já é percebida, ao lembrar que o recuo trimestral do setor, que no primeiro trimestre foi de 26%, agora já está em 10%. “Na margem, já diminuiu a intensidade da queda e isso deve continuar no último trimestre”, comentou a consultora.
Mas, ao participar da coletiva de imprensa, Tereza ponderou que o setor deve ser um dos últimos a sair da crise, tendo em vista que a recuperação deve ser adiada pela perda de renda, continuidade do avanço do desemprego e baixa oferta de crédito, uma vez que os bancos seguem seletivos para evitar o aumento da inadimplência e os efeitos da queda dos juros só devem ser notados no consumo em 2017.