O feriado de Ação de Graças nos EUA traz cautela aos negócios no Brasil, reduzindo a liquidez, já que as bolsas em Nova York ficarão fechadas hoje. Essa expectativa deve ainda ser reforçada por preocupações com a disseminação do coronavírus no mundo, apesar de notícias positivas sobre andamento de vacinas contra a doença. O ruído político também reforça a queda, em meio a preocupações com o fiscal do País, após a entrevista, ontem à noite, do ministro da Economia, Paulo Guedes, em que citou o nome do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Sendo assim, o Ibovespa interrompe três dias seguidos de alta. Ontem subiu 0,32%, aos 110.132,53 pontos.
Às 10h48, o índice cedia 0,58%, aos 109.495,68 pontos.
A despeito do resultado melhor que o esperado do Caged de outubro, o mercado financeiro, especialmente o Ibovespa não reagiu ao dado. Na avaliação da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, sem dúvida, o fato de o dado ter vindo acima do previsto é uma boa notícia, porém reflete as medidas de flexibilização adotadas lá atrás para conter a pandemia de coronavírus. "Mesmo que tenha ficado acima do esperado, de certa forma, imaginava-se que o número viria bom, pois há retomada de alguns setores por causa das vendas de fim de ano. Então, é uma fotografia do momento, e o mercado olha para o futuro", afirma.
Ela cita o setor de serviços, com abertura líquida de 394.989 postos de trabalho com carteira assinada em outubro. A geração de 394.989 vagas formais em outubro foi recorde histórico, ficando melhor do que todas as estimativas na pesquisa do Projeções Broadcast ( 149.797 a 340 mil; mediana de 213.329 postos).
Em setembro, a abertura de postos de trabalho somou 311.552. O resultado de outubro decorreu de 1,548 milhão de admissões e 1,153 milhão de demissões. Em outubro de 2019, houve a abertura de 70.852 vagas com carteira assinada.
O resultado do mês passado veio bem acima do projetado pelo mercado financeiro. O intervalo das estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast previa abertura líquida de vagas de 149.797 a 340.000. A mediana da pesquisa, de 213.329 vagas.
Nem mesmo o noticiário corporativo anima, após a aprovação do plano estratégico da Petrobras, bem como a indicação de que bancos centrais mundiais continuarão dando suporte às economias para se recuperarem da crise de covid-19. Isso porque o temor em relação ao avanço da doença parece ser maior.
A Alemanha ultrapassou hoje a marca de 15 mil mortes em decorrência do novo coronavírus, enquanto dados da véspera mostram que o número total de casos de covid-19 no planeta superou 60 milhões, com avanço inclusive no Brasil. A chanceler alemã Angela Merkel reconheceu que as medidas de isolamento social podem ser estendidas até janeiro em algumas partes do país.
Além da preocupação externa, o interno também deve reforçar a cautela. Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, "pegou mal este atrito de Guedes com Campos Neto. E como hoje não há o norte dos EUA, isso vai ser motivo de realização da Bolsa", afirma, completando, contudo, que a queda pode não ser robusta, a ponto de gerar desespero. "Não deve ser aquela sangria desatada, pois o rali de fim de ano tende a ser até mais forte. Essa redução que pode ocorrer deve gerar oportunidades. Mas o fator Guedes deve ser um motivador de baixa", completa.
Ontem, ao ser questionado sobre a declaração do presidente do BC de que é ponto-chave para o Brasil "conquistar credibilidade com um plano que dê uma clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida", Guedes respondeu: "se ele tiver um plano melhor, peça a ele qual é o plano dele."
Guedes ainda rebateu críticas em relação à atuação da equipe econômica feitas por agentes financeiros. Disse que o governo manteve o rumo mesmo no caos, porém não disse o que o mercado tanto espera que é quando o governo conseguirá fazer avançar no Congresso as votações da PEC emergencial, do Orçamento de 2021 e das reformas tributária e administrativa.
Os ruídos entre Guedes e o presidente do BC apenas reforçam o ambiente de tensão do momento, diante das dificuldades da equipe econômica de levar adiante as necessárias medidas de ajuste, avalia o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.
Um fonte que pede o anonimato diz que muito provavelmente haverá declaração de Campos Neto ainda hoje amenizando a situação. "Foi um desabafo do Guedes. Possivelmente até o fim desta quinta-feira isso estará apaziguado."