A cineasta e animadora Signe Baumane foi internada em um hospital psiquiátrico, quando ainda morava na Lituânia. Lá, ora era diagnosticada como esquizofrênica, ora como bipolar. “Nunca souberam direito”, conta ela, há mais de duas décadas moradora de Nova York. Diferentemente dos médicos que tentaram tratá-la, Signe hoje sabe quem é e encontrou sua própria fórmula para se agarrar à sanidade. “E, ainda assim, aqui estou eu. Inteira e viva.” Depois de criar 15 curta-metragens em animação, ela se arrisca pela primeira vez com um longa. E o tema estava lá, dentro da cabeça dela, antes mesmo de ela saber que poderia usar momentos sombrios para criar uma mensagem de esperança.
O resultado, Rock In My Pockets, que estará na programação do festival de animação Anima Mundi, realizado no Rio de Janeiro (de 10 e 15 de julho) e em São Paulo (de 17 a 22 julho), é um relato da luta dela contra a depressão – e de outras três mulheres da família dela. Signe propõe uma viagem pouco ortodoxa para dentro da cabeça humana, permitindo-se exageros alucinógenos aqui e ali, e pontua tudo com humor e ironia, de forma a aliviar o peso da temática.
O longa de Signe não está entre os mais comerciais da programação extensa da 23ª edição do Anima Mundi – ele integra o Programa Especial Galeria, dedicado às produções mais experimentais. Mesmo como uma síntese do antipop da animação, o longa é destaque pela viagem ao subconsciente, numa versão “para adultos” do já razoavelmente maduro Divertida Mente, animação da Pixar ainda em cartaz pelo circuito brasileiro. “O filme não é triste”, completa Signe. “É uma mensagem de esperança, por fim.”
Adultos e crianças
Trata-se de uma animação não voltada ao público infantil, capaz de atingir os maiores em diferentes camadas e percepções. É o exemplo da função do Anima Mundi, festival criado e dirigido por Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães em 1993: animação não é somente para crianças. “Ainda há gente que encara esse tipo de longa como algo para um público infantil. Não é assim”, diz Coelho, um dos diretores do festival. “Ainda assim, o circuito comercial ainda tem essa impressão de que as animações são apenas para crianças.”
A interpretação errônea da função da animação não é exclusividade do Brasil. O longa em stop motion espanhol Pos Eso estreou no país natal trabalhado pelo departamento de marketing e comercial como uma produção infantil. A produção de Samuel Ortí Martí tem sangue, ironia e sessões de exorcismo. Tudo feito com bonecos de massa de modelar, mas longe de ser palatável para a gurizada. O resultado, um caos total: pais irritados, crianças atordoadas e um diretor extremamente furioso.
É claro, contudo, que o público infantil tem espaço entre as animações – e no Anima Mundi. Grande destaque pop desta edição é O Pequeno Príncipe, longa que adapta a obra de Antoine de Saint-Exupéry (e chega ao circuito nacional em 20 de agosto), e tem dubladores como Jeff Bridges, Rachel McAdams e James Franco.
Tanto O Pequeno Príncipe, dirigido por Mark Osborne, quanto Rock In My Pockets, conversam com públicos diferentes, mas partilham explosão criativa que somente a animação oferece: um príncipe vive em um asteroide ou a presença física da depressão na vida de quatro mulheres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.