Variedades

Festival de Berlinale segue apostando na estética política

Vai começar mais uma Berlinale, a de número 65. Desta quinta-feira, 5, até o próximo dia 15, Berlim converte-se na capital mundial do cinema. O festival, iniciado numa capital que se reconstruía dos escombros da destruição provocada pela derrota da Alemanha na guerra, atravessou os anos da Guerra Fria e da divisão do país em duas partes. A reunificação, com o fim do império soviético, não afastou a Berlinale de sua vocação. No mundo global, o Festival de Berlim segue apostando na estética política. Engajamento é a palavra de ordem. Numa entrevista no site do evento, o diretor Dieter Kosslick e o presidente do júri deste ano, o cineasta Darren Aronofsky, conversam sobre o que é relevante para o mundo neste (ainda) alvorecer do século 21. Aronofsky, diretor de Noé, fala da necessidade de uma consciência ecológica global. O meio ambiente é o mais importante dos temas. Dele depende nossa sobrevivência, o futuro da Terra.

Serão 19 longas na competição, mais cinco fora de concurso na mostra principal. O Brasil não compete pelo Urso de Ouro, exceto na categoria de curta, com Joel Pizzini. Mas o País estará representado em diferentes seções, e com programas dos mais atraentes. Em 1998, quando Walter Salles ganhou o Urso de Ouro por Central do Brasil, o chinês Jia Zhang-ke ainda era um principiante que se iniciava no mundo dos grandes festivais. Agora eles voltam juntos com O Homem de Fenyang, o belo documentário que Salles dedicou a seu colega da China (e que já foi exibido na Mostra). O Brasil estará representado no Panorama, no Fórum. São filmes de diretores consagrados, como Anna Muylaert (Que Horas ela Volta?), Chico Teixeira (Ausência) e Lírio Ferreira (Sangue Azul), mas também de novos realizadores, como os gaúchos Felipe Matzenbacher e Márcio Reolon, de Beira-Mar.

O cartaz dessa 65.ª edição mostra uma cortina, indicando que o espetáculo vai começar. “O glamour e o suspense de toda experiência cinematográfica são precedidos pelo momento em que a cortina se abre, revelando a tela. Nosso cartaz desse ano é uma homenagem a esse instante mágico para todos os cinéfilos”, define Herr Kosslick.

A cortina nesta quinta-feira, 5, vai se abrir para a espanhola Isabel Coixet, uma veterana que já teve vários filmes apresentados em diferentes seções das Berlinale. Desta vez, ela concorre com Nobody Wants the Night. Vem em boa companhia: a estrela francesa Juliette Binoche, a japonesa Rinko Kikuchi (de Babel, de Alejandro González Iñárritu) e Gabriel Byrne. A competição traz nomes de ponta do cinema de autor – o norte-americano Terrence Malick, com Knight of Cups; o inglês (sob a bandeira da Holanda) Peter Greenaway, com seu novo filme inspirado na passagem do célebre diretor de O Encouraçado Potemkin pelo México (Eisenstein in Guanajuato); o francês Benoit Jacquot, com a nova versão de O Diário de Uma Camareira; o alemão Wener Herzog com um filme rodado dos Estados Unidos, Queen of the Desert, com Nicole Kidman.

Homenagem

A América Latina terá dois filmes do Chile (El Botón de Nácar, de Patricio Guzman, e El Club, de Pablo Larraín), mais uma da Guatemala (Yxcanul Volcano, de Jayro Bustamante) na competição. Wim Wenders, que receberá um Urso de Ouro honorário, por sua carreira, vai lançar o novo filme fora de concurso – Everything will Be Fine, com James Franco e Charlotte Gaingbourg. Dieter Kosslick justifica a homenagem – “Seu trabalho como diretor, fotógrafo e escritor forjou nossa memória do cinema e segue inspirando outros diretores.”
As demais seções prometem temas fortes e obras de grande impacto. Wielland Speck explica o motivo que determinou suas escolhas na seleção do Panorama. O abuso é como uma praga que precisa ser combatida. O Panorama terá filmes como Härte/Tough Love, de Rosa von Praunheim, sobre garoto abusado pelos pais, que direciona sua revolta para o ringue e vira campeão de lutas. É no Panorama que se concentra a participação brasileira deste ano, com os filmes de Anna Muylaert, Lírio Ferreira, Chico Teixeira e Walter Salles (em Panorama Dokumente). No Fórum, Stefanie Schulte explica o título de sua seleção – que inclui Beira-Mar -, The Sound of the Closing Dor, o Som da Porta Fechando-se.
Nem sempre é um fim, mas a possibilidade de um (re)começo. Por exemplo, a retrospectiva deste ano privilegia o Technicolor, sistema que se tornou obsoleto com as novas tecnologias que abriram um campo novo (para a nouvelle vague, o Cinema Novo) nos anos 1960. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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