O estrondo de xícaras e pires quebrando vai se juntar ao som de maçãs rolando pelo chão no espetáculo Smashed, que abre a 5ª edição do Festival Internacional Sesc de Circo nesta quinta, 13, no Sesc Consolação. A responsável por esse barulho é a companhia inglesa Gandini Juggling, criada por Sean Gandini e Kati Ylä-Hokkala, dois mestres na arte do malabarismo contemporâneo.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone, Sean explica que a cena inusitada criada para o espetáculo tem a ver com um desejo antigo, de deslocar a técnica do seu formato tradicional circense. “Queríamos aproximar o malabarismo da cena teatral e também de uma coreografia, onde pudéssemos criar situações e imagens mais distintas.”
No palco, nove artistas se sentam de frente para a plateia e executam números de lançamento de maçãs cada vez mais complexos. A inspiração primeira é a obra deixada pela coreógrafa e bailarina alemã Pina Bausch (1940-2009). “Nós queríamos imaginar como Pina faria uma obra com números de malabarismo. No início, criamos o espetáculo para apenas apresentações pontuais, logo depois que ela morreu. Quando percebemos, as pessoas vinham e chamavam outras. Até hoje já apresentamos mais de 650 vezes, em mais de 50 países. É uma carta de amor à Pina.”
Sean afirma que não existe uma história. Diferente do teatro, e mais próximo da dança, os espetáculo de circo dispensam o rigor de uma narrativa. Para ele, tal como as maçãs que pulam de mão em mão, as ideias na cabeça do público estão livres para inventar qualquer tipo de relato. “Prefiro dizer que são imagens, que poderiam ser interpretadas como histórias, mas cabe à plateia ler e fornecer seus próprios significados.”
Com homens e mulheres se revezando entre maçãs e xícaras, Smashed deixa de ser um conjunto de pessoas equilibrando objetos para se tornar um emaranhado de mãos evitando que os objetos caiam. Tais movimentos também apontam para a criatividade da bailarina, diz Gandini. “Às vezes eles estão na formação Pina Bausch Parade, quando todos os artistas estão alinhados, caminhando e dançando. Às vezes, há uma mulher cercada por homens, mas isso não surge como uma cena negativa. De qualquer forma, são coleções de imagens.”
É no limite do equilíbrio que o espetáculo promete “falhar”, e o diretor ressalta que maçãs mordidas rolando pelo chão e cacos de xícaras delicadas fazem parte de algo mais elevado. “Algumas pessoas podem ver e dizer: mas que desperdício todo é esse? Eu acho o espetáculo propõe algo diferente da ideia de consumo. Eu diria que um gesto de sacrifício.”
O festival
Em sua quinta edição, a mostra vai até o dia 23, com oficinas, debates, exibição de filmes, além da apresentação de 23 espetáculos em 14 unidades do Sesc São Paulo e Guarulhos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.