Variedades

Festival de filmes ambientais enfrenta o dilema do didatismo

Quando foi idealizado em 1999, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) procurou estabelecer um elo entre cinema, meio ambiente e música. Esse ano, por conta da crise econômica, o festival reduziu em quase 50% o orçamento de sua 17ª edição sem desfigurar seu formato. “Com R$ 2,5 milhões, focamos na questão ambiental e audiovisual”, explicou o consultor de cinema do Fica, Lisandro Nogueira.

No encerramento, que aconteceu domingo (16), foram conhecidos os vencedores da Mostra Competitiva (longas, médias e curtas-metragens), que dividiram um prêmio de R$ 240 mil – os ganhadores trataram de seus temas e personagens de forma um tanto didática, o que se tornou um dos problemas da maioria dos concorrentes dessa edição.

Outro aspecto em comum foi o tom de denúncia, que resvalou em algumas ocasiões para o panfletário. O média-metragem Transgenic Wars (a organização do festival não traduz os títulos dos filmes estrangeiros), que saiu com o troféu Cora Coralina como melhor obra, aborda a questão do lobby dos transgênicos nos países desenvolvidos e do uso indiscriminado de produtos agrotóxicos de forma mais elaborada esteticamente do que o filme O Veneno Está na Mesa II, do diretor Silvio Tendler, vencedor na categoria de melhor longa, que abusou do didatismo e do formato televisivo, enfraquecendo o potencial do seu conteúdo.

Um dos melhores filmes exibidos no Fica foi Guinée: Le Territoire des Oublié, do diretor francês Philippe Lafaix, que já trabalhou no Brasil como câmera do filme Dia de Festa, de Toni Venturi e Pablo Georgieff, e que saiu com o prêmio de melhor filme pela escolha dos jornalistas que cobrem o festival.

Com uma câmera ágil, o road movie do diretor documenta a precariedade com que vive o povo de Guiné. “Já morei, quando era criança, em alguns países da África e sei o drama por que passa essas pessoas”, disse Lafaix ao Estado, revelando ainda que seus filmes seguem “a marca da escola francesa de documentário e de reportagem. Chegamos a essa questão técnica e de linguagem depois de fazer muitos filmes. Tento filmar a realidade de forma poética, chegando o mais próximo possível das pessoas, mas sem interferi na realidade delas”.

Mesmo não apresentando nenhuma ousadia estética, o vencedor de melhor média-metragem Índio Cidadão?, de Rodrigo Siqueira, que é descendente de índios e mora em Brasília, foi o filme que mais emocionou o público ao retratar a participação das tribos indígenas na Constituinte (1987/88) e nas reivindicações que se seguiram nos anos posteriores junto ao Congresso Nacional e de como os governos foram omissos nas demarcações de suas terras, principalmente nos governos mais recentes. Usando eficientemente o material de arquivo com as imagens atuais, o documentário cumpre sua função de denunciar sem ser panfletário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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