Para que serve um grande festival de cinema? Para avaliar o estado do cinema, revelar novos talentos e resgatar clássicos. Para promover debates e fomentar coproduções. Para celebrar. O Festival do Rio, que começa nesta quarta-feira, 24, quer fazer tudo isso. E, para que fique claro, escolheu para a abertura o documentário O Sal da Terra, de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders, sobre o pai do primeiro, o grande fotógrafo Sebastião Salgado. “Precisava de um olhar estrangeiro, para que o filme não ficasse familiar nem doméstico. Que olhar melhor que o de Wim?”, pergunta Juliano. Virão Sebastião, a mulher, Lélia, e os diretores.
Está sendo um ano difícil, mas a diretora artística do evento, Ilda Santiago, esclarece o teor da dificuldade. “No primeiro semestre, tudo ficou para depois da Copa e agora vem a eleição. Mais que difícil, está sendo um ano atípico. Mas será um grande festival”, promete. O Festival do Rio 2014 muda de casa. Em vez do Odeon, encravado na Cinelândia – e fechado para reforma -, as galas transferem-se para o complexo Lagoon, na Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões-postais da cidade chamada de maravilhosa. O Lagoon vai abrigar não apenas as sessões de abertura e encerramento, mas toda a Première Brasil, grande vitrine da produção nacional.
“Escolhemos O Sal da Terra como filme de abertura porque Sebastião Salgado faz a diferença, como homem, como cidadão e artista, e o filme deixa isso claro. Além do grande fotógrafo que todo mundo reconhece, ele fez um resgate maravilhoso de uma área ameaçada no interior de Minas. Não fez sozinho. O Festival do Rio também é feito por um coletivo. Walkiria (Barbosa) coordena o RioMarket, Wilma (Lustosa) trata da comunicação e do marketing, (Marcos) Didonet organiza os cine-encontros, o Nelson (Krumholz) cuida do financeiro e eu da programação. Cada um procura fazer a diferença. O Sebastião faz a diferença e por isso é uma honra tê-lo aqui conosco”, resume Ilda.
Os números são todos superlativos – 21 mostras, 350 filmes, 29 salas mais quatro pontos de exibição espalhados por toda a cidade. Todos os olhos do mundo no Rio – é o slogan deste ano. O festival abriga todas aquelas seções que os cinéfilos já conhecem – Première Brasil e Latina, Novos Rumos, Expectativa, Mostra Geração, Midnight, etc. Haverá uma extensa programação de documentários. Ocorrerão algumas mudanças, além da sede das galas. Cai a tradicional mostra Mundo Gay, mas não se trata de um súbito acesso de homofobia. O Festival do Rio distribui a produção GLBT por toda a sua programação e até cria um troféu para o melhor filme gay, e ele vai se chamar Félix (em homenagem ao personagem de Mateus Solano na novela Amor à Vida, de Walcyr Carrasco).
A Première Brasil, menina dos olhos do festival, vai exibir 69 produções – 41 longas e 28 curtas -, de diretores estreantes e veteranos. São filmes dos mais variados temas e regiões do País. Dez integram a mostra competitiva de longas, e sete terão sua pré-estreia mundial no Lagoon – Ausência, de Chico Teixeira; Love Film Festival, de Manuela Dias; O Fim de Uma Era, de Bruno Safadi e Ricardo Pretti; O Fim e os Meios, de Murilo Salles; O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum; O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho; e Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade, de Daniel Aragão. Os três restantes são Casa Grande, de Felipe Barbosa; Obra, de Gregorio Fraziosi; e Sangue Azul, de Lírio Ferreira.
Como país homenageado, o México tem direito a retrospectiva e também à exibição de Cantinflas – A Magia da Comédia, de Sebastian del Amo, que vai concorrer com o brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro. A retrospectiva resgata uma figura mítica – Fernando de Fuentes – e vai exibir sua obra-prima. Vamonos con Pancho Villa, de 1935, é um dos grandes filmes latino-americanos e um vibrante poema revolucionário com formato de western caboclo.
Mais de três centenas de filmes. Difícil de escolher, mas, se você quiser pinçar algumas pérolas inéditas da programação, aqui vão. Mapas para as Estrelas, de David Cronenberg, que deu o prêmio de melhor atriz para Julianne Moore em Cannes, em maio; Corações Famintos, de Valerio Constanzo, que também valeu à italiana Alba Rohrwacher e ao norte-americano Adam Driver (da série Girls) os prêmios de interpretação no recente Festival de Veneza; Boyhood, nova investida do diretor Richard Linklater na investigação do tempo, acompanhando, ao longo de 12 anos, o rito de passagem de um garoto que cresce diante da câmera; Men Women and Children, de Jason Reitman, que quem já viu aponta como o filme do próximo Oscar; e o deslumbrante documentário National Gallery, de Frederick Wiseman. O encerramento, dia 8 (de outubro), será com Trash – A Esperança Vem do Lixo, de Stephen Daldry. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.