Variedades

Festival em São Paulo promove a defesa da importância da música de câmara

No recém-lançado livro Absolutely on Music, o escritor e o maestro japoneses Haruki Murakami e Seiji Ozawa reproduzem longas conversas que tiveram nos últimos anos sobre música. Lá pelas tantas, Murakami quer entender algo que lhe parece ilógico: por que Ozawa, em seu projeto de formação orquestral na Suíça, faz os jovens músicos tocarem em um quarteto de cordas? “Sem música de câmara, um músico não faz música. É na música de câmara que ele aprende a ouvir a si mesmo e aos outros.”

A declaração serve de bom exemplo para a defesa da música de câmara como base da vida musical de qualquer país. Ainda assim, no Brasil ela ainda é, na melhor das hipóteses, periférica. E foi com o objetivo de mudar essa realidade que nasceu o Festival Sesc de Música de Câmara, que a partir desta terça-feira, 22, realiza sua segunda edição, com cerca de 50 concertos em todo o Estado de São Paulo, reunindo mais de 100 artistas brasileiros e estrangeiros, com curadoria de Claudia Toni.

“A ideia me surgiu de uma constatação. Depois de renovado e sistemático investimento na formação de músicos, a pergunta seguinte seria: onde eles vão tocar? As orquestras não têm como comportar esse contingente, daí a aposta em uma cena na qual a música de câmara ganha importância”, explica Claudia. Mas não se trata, ela completa, apenas de mercado. “Esse repertório pode ocupar palcos menores, circular mais facilmente e, nesse sentido, é natural imaginá-lo como um caminho para levar a música clássica ao maior número de pessoas possível”, diz. “E também é preciso ter em mente que o gênero permite maior experimentação, uma demanda de nosso tempo.”

É a partir dessas linhas que nasceu a programação deste ano. A agenda foi dividida em alguns núcleos. O primeiro põe o foco na música antiga, com grupos como o LArpeggiata, o Pera Ensemble, o Vox Luminus e o Coral Jovem do Estado de São Paulo. O segundo eixo leva em consideração formações mais tradicionais, como o Trio Appassionata, o Trio Apaches, o Giocoso String Quartet e a Camerata Ilumina, formada por ex-alunos do Ilumina Festival, criado no Brasil pela violista Jennifer Stum. O piano, por sua vez, está representado pelo Duo Gisbranco e o duo formado por Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini. Por fim, uma atenção aos instrumentos de sopros, com os quintetos Imani Winds e Sujeito a Guincho. O Pera Ensemble também faz apresentações dedicadas às crianças no Sesc Vila Mariana e no Sesc Sorocaba e o Imani, no Sesc Sorocaba e no Museu Afro Brasil. E, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo, há um ciclo de debates e masterclasses.

Criado em 2000, o francês LArpeggiata é símbolo da renovação de repertório.
Diretora do grupo, Christina Pluhar conta ao Estado que a ideia nasceu como forma de reunir músicos que queriam ter maior controle sobre aquilo que faziam em termos de repertório. “A ideia era poder experimentar, sem amarras e logo de cara decidimos nos focar na música antiga”, ela explica. “Com o tempo, no entanto, resolvemos investir também na improvisação. Então, nossos programas traziam obras de compositores estabelecidos lado a lado com criações nossas, improvisadas no palco. Para nós, foi uma revelação: o músico que improvisa é mais livre e isso interfere em qualquer repertório que ele faça. Além disso, de alguma forma isso passou para o público a noção de que tudo o que fazemos é contemporâneo, propondo uma nova relação entre a plateia e aquilo que está sendo feito no palco.”

Destaques

Camerata Ilumina
Obras de Nico Muhly, Händel e Francesco Geminiani (SP e São José dos Campos)

Imani Winds
Obras de Ligeti, Berio e Mendelssohn (SP, Araraquara, Santos e S.J. dos Campos)

LArpeggiata
Espetáculo Mediterrâneo (SP, Santos e Araraquara)

Trio Appassionata
Obras de Beethoven e Dvorák (em SP, Santos e S.André)

Pera Ensemble
Espetáculo Café (SP, Araraquara, S.André e Sorocaba)

Coral Jovem do Estado de São Paulo
Obras do período colonial (SP, Santos e Sorocaba)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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