Tudo por Amor ao Cinema – o título do longa documentário de Aurélio Michiles dedicado ao lendário diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, Cosme Alves Netto, cabe como luva aplicado ao novo Jean-Luc Godard, Adeus à Linguagem, que também estreia nesta quinta, 30, e a Ato, Atalho e Vento, admirável ensaio poético de Marcelo Masagão que abriu na quarta, 29, o Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo. Foi uma abertura e tanto, com mil cadeiras para igual número de espectadores na Praça Cívica do Memorial da América Latina. A partir desta quinta, o filme estará em cartaz na Reserva Cultural.
Em junho, o show em homenagem a Cazuza já levou 40 mil à Praça Cívica, consolidando o Memorial da América Latina como o grande espaço público da cultura latina na cidade e no Estado. Dez anos de festival! Desde que surgiu, em 2006, criado pelo então secretário de Estado da Cultura, hoje presidente do Memorial, o cineasta João Batista de Andrade, o evento visava a contribuir para a consolidação e o intercâmbio das cinematografias do continente. “Tínhamos como foco não só exibir filmes como também propor a troca de informações para possíveis ações conjuntas para consolidar e melhor compreender a produção audiovisual da região”, ele resume.
Dez anos depois, o Festival Latino-americano de São Paulo permanece um foco de resistência, mas também é, cada vez mais, reconhecido internacionalmente como um foro respeitabilíssimo de excelência artística. Para seu décimo aniversário, os curadores Francisco César Filho, Jurandir Müller e João Batista de Andrade organizaram uma seleção de 111 filmes representando 17 países da América Latina e do Caribe. As projeções vão se realizar na tenda armada na Praça Cívica – só a abertura foi ao ar livre, com telão. O 10.º festival homenageia dois autores – Hector Babenco e Lírio Ferreira – e distribui sua programação em blocos. Contemporâneos, Homenagens, Escolas de Cinema, DocTV, Docs Musicais.
Entre as atrações encontram-se importantes pré-estreias de filmes brasileiros – o novo Masagão, claro, Ato, Atalho e Vento; Sermão dos Peixes, de Cristiano Burlan, que também foi selecionado para o Festival de Brasília, em setembro, com Fome; Trago Comigo, de Tata Amaral; e As Fábulas Negras, fantasia que marca o encontro de quatro autores viscerais do terror brasileiro, Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Entre os estrangeiros, também existem atrações muito especiais – Mar, da chilena Dominga Sotomayor; Morte em Buenos Aires, policial de Natalia Meta coestrelado por Chino Darín, filho de Ricardo; Ragazzi, de um dos mais cults e menos conhecidos (no Brasil) autores argentinos contemporâneos, Raúl Perrone; Las Insoladas, de Gustavo Taretto, a quem se deve o ótimo Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Digital; e Sozinhos/Solos, da peruana Joanna Lombardi, filha de Ricardo Lombardi e diretora de um dos melhores filmes lançados este ano nos cinemas de São Paulo, Casadentro.
Na retrospectiva de Babenco, será possível rever Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia; Pixote – A Lei do Mais Fraco; O Beijo da Mulher-aranha; e Carandiru, entre outros. Na de Lírio Ferreira, Baile Perfumado, Cartola – Música para os Olhos e Árido Movie. Mas a menina dos olhos dos curadores e da própria organização desse 10.º festival é o seminário internacional Caminhos do Audiovisual Latino-americano no Século 21, que vai reunir especialistas de vários países em cinco mesas. A Produção Audiovisual Latino-americana na era Digital e Conectada – Possibilidades e Tendências, Escolas de Cinema e Audiovisual no Contexto Social, Cultural e Profissional, a Web e o Audiovisual Latino-americano – Produção e Distribuição na Rede, Novas Modalidades Temáticas, Dramatúrgicas e Estéticas, e Coprodução Internacional. Entre os convidados internacionais que confirmaram presença estão Joanna Lombardi e Gustavo Taretto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.