Acostumado a participar de eventos acadêmicos e palestras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 89 anos, virou um habitué das "lives" (transmissões de vídeo ao vivo pela internet).
O tucano pode ser visto, em junho, em até três vídeos diferentes na mesma semana, fora as entrevistas para veículos do Brasil e do exterior. O ritmo intenso o levou a pedir a seus assessores que diminuam a carga de "lives" em julho. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, as transmissões ao vivo cumprem a função de manter FHC ativo politicamente e compor a renda que ele costumava receber com palestras pagas.
Em geral, cabe à sua mulher, Patrícia Kundrát, de 42 anos, deixar o computador pronto, com microfone e vídeos funcionando. Mas, como ela nem sempre está em casa, alguns contratempos podem acontecer.
Em 15 de junho, um problema técnico levou FHC a atrasar uns dez minutos sua participação no Forum Brazil UK 2020, iniciativa de estudantes brasileiros no Reino Unido, que tem transmissão do Estadão. Quem acompanhava a transmissão, pode ver o ex-presidente se levantar e andar pelo cômodo, com a estante de livros ao fundo.
A participação nas "lives" costuma cansar Fernando Henrique. Sem a mediação de assessores, os debates e a participação de outros palestrantes costumam se alongar mais do que o ex-presidente gostaria. Os anfitriões das transmissões ao vivo são variados. No último mês, em meio a participações em manifestos a favor da democracia e contra o presidente Jair Bolsonaro, FHC respondeu às perguntas do comediante Fábio Porchat e da jornalista Joyce Pascowitch, que focou a entrevista na vida pessoal do ex-presidente, discutiu os rumos da política externa com diplomatas e discursou para o mercado financeiro.
Nesta quinta-feira, 25, o tucano conversou de forma virtual com investidores da operadora financeira Necton e, mais tarde, com empresários do Lide de Ribeirão Preto. Em ambos os casos foi remunerado, embora os valores não tenham sido revelados pelas empresas.
Ao falar sobre o convite a FHC, o economista chefe da Necton, André Perfeito, disse que o ex-presidente foi quem conduziu o Brasil no período de mais longo de estabilidade, mas pontuou que o tucano não é um consenso no mercado financeiro. Isso ficou claro nos comentários da "live", onde o convidado foi chamado até de "comunista". "O mercado financeiro tem predileção pelas bandeiras do Paulo Guedes", disse Perfeito.
<b>Oposição</b>
Nesta sexta-feira, FHC participará de um ato virtual contra Bolsonaro. Nas "lives" políticas, o tucano tem pregado a coesão da oposição, sem defender o impeachment do presidente, um processo considerado por ele "traumático".
Nas declarações mais recentes, FHC disse que Bolsonaro está "cavando seu próprio buraco" e é "menor que a cadeira de presidente". Mas o ponto central de suas intervenções é sempre o diálogo pluripartidário e amplo, uma posição que destoa dos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT.
Além das "lives", FHC tem usado muito o Twitter. Segundo pessoas próximas, o tucano "acha graça" na ferramenta, que considera um "desafio". Autor de mais 25 livros, além de artigos e ensaios acadêmicos, FHC encontra, às vezes, dificuldade para reduzir seus comentários a 280 toques. Recorre a abreviações de palavras (PR, em vez de presidente da República, por exemplo) e à divisão dos tuítes em mais de uma publicação.
Dentro das inovações tecnológicas impostas pela quarentena, o tucano também aderiu aos serviços de streaming. Para, principalmente, assistir a filmes com sua mulher. O tucano não é fã de assistir maratonas de séries, segundo dizem amigos. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>