Variedades

Figura central do fotocineclubismo, Lorca expõe suas imagens coloridas

Veterano do histórico Foto Cine Clube Bandeirante, que marcou o advento da fotografia experimental entre nós, German Lorca, aos 94 anos, não pensa em aposentadoria. A cada ano faz uma nova exposição. A deste será aberta nesta quinta-feira, 27, no Sesc Bom Retiro, com 62 fotos que cobrem um período de seis décadas de produção – e vão desde as primeiras experiências em preto e branco, de caráter construtivo, até fotografias publicitárias de várias campanhas, passando pelas imagens com efeitos de solarização feitas com a ajuda do amigo Geraldo de Barros (1923-1998), um dos grandes nomes do movimento concreto brasileiro.

Pictórico

A mostra, organizada pelo curador Eder Chiodetto, exibe pela primeira vez as fotos coloridas de German Lorca, mais conhecido como mestre do pictorialismo em preto e branco, como uma imagem em que tenta emular o estilo do pintor metafísico italiano Giorgio Morandi (1890-1964), feita na época em que trabalhava em conjunto com Geraldo de Barros.

“Queria que a foto tivesse aquele efeito borrado para imitar a pintura”, admite Lorca.
Não foi o único pintor a quem o fotógrafo paulista homenageou. Hoje um nome internacionalmente reconhecido – o Museu de Arte Moderna de Nova York comprou recentemente um lote de fotografias de seu acervo -, Lorca também prestou tributo à ordem ortogonal do holandês Mondrian (1872-1944). Trata-se de uma janela quebrada, em que Lorca identificou ecos do neoplasticismo.

Anos mais tarde, conta, estava passando por uma rua em Nova York e viu uma série de caixotes cobertos com lonas que exibiam as três cores primárias usadas por Mondrian em suas telas. Coincidência, sorte? Ele não parou para pensar. Fotografou. O resultado é uma composição abstrata. Não é a regra da exposição, em que o protagonismo pertence à figura humana.

Divas

Nas fotos recentes – como a de um colchão dágua vermelho sobre uma piscina azul (que evoca as pinturas do inglês David Hockney) -, as pessoas estão ausentes, mas não nas fotos publicitárias que o tornaram conhecido no meio. São imagens de atores e atrizes em trajes elegantes, vendendo carros que eram um pequeno luxo para a classe média dos anos 1960, como o Aero Willys.

Lorca lembra da atriz Maria Della Costa (1926-2015) posando em frente ao seu teatro na Bela Vista com uma estola de pele (apenas ela e duas gotas de Chanel número 5). E também do casal Eva Wilma e John Herbert em trajes de gala em frente a um teatro da Mooca, na zona leste. Naquela época, por volta de 1966, ele já tinha seu estúdio na Vila Mariana (onde trabalha até hoje) e vivia quase que exclusivamente de publicidade, usando os filhos como modelos. Henrique, hoje com 62 anos, aparece em várias fotos: como mestre-cuca numa propaganda de fogão, numa guerra de travesseiros e na carroceria de uma pick up Willys.

Aliás, foi numa delas que quase aconteceu uma tragédia. Colocaram uma girafa para provar sua resistência e a carroceria cedeu. Assustada, correu enlouquecida pelo centro da cidade. “Teria sido morta se o trânsito fosse maluco como o de hoje em dia”, comenta Lorca, rindo da sua extravagância felliniana.

Lorca assinou várias campanhas publicitárias, fez fotojornalismo (no Estado, inclusive), mas sua paixão é mesmo a foto experimental, que exercita até hoje – sua mais recente série, que não está na exposição, é um sofisticado jogo expressionista de luz e sombras no limiar da abstração, fruto da observação do movimento da luz solar no interior de sua casa.

Em contrapartida, há vários exemplos do grafismo que caracteriza as imagens de Lorca, como uma série de pipas coloridas. Embora não seja um fotógrafo de arquitetura, como Cristiano Mascaro, ele tem uma sensibilidade especial para o tema, como as fotos das casas de Penedo, em Alagoas. “Imagine, elas não têm escadas internas e seus moradores usam uma escada de pedreiro para subir aos quartos.” Ele fotografou essas casas contra um muro negro, que toma o lugar do céu, acentuando o clima dramático do cenário.

O contraste fica por conta das fotos coloridas de Nova York, feitas em diferentes épocas, inclusive antes dos atentados às torres gêmeas, que podem ser vistas refletidas num automóvel de luxo. Hoje são imagens históricas de prédios que não mais existem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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