Os Jogos Mundiais Universitários, realizados na China, tiveram mais uma denúncia de nepotismo, desta vez envolvendo o Brasil. Depois do caso com a corredora da Somália que fez o pior tempo da história nos 100 metros, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Universitários (CBDU), Luciano Cabral, foi acusado de colocar o próprio filho, Leandro Cabral, na competição para disputar o torneio de tênis sem ter passado por seletiva. Em contato com a reportagem do <b>Estadão</b>, a assessoria da CBDU informou que não vai se posicionar sobre o caso.
"Eles tiram lugar de atletas que merecem, que fizeram por onde para estar lá e levam dirigentes ou até fazem essas coisas (de dar a vaga para parentes). Ele (Leandro Cabral) não estava na convocação oficial da CBDU para os Jogos Mundiais e, sinceramente, poucos que eu conheço sabiam que ele jogava tênis. Vi que ele estava em um vídeo e fui checar. O nome constava na lista dos atletas que iriam disputar as partidas na China. É revoltante", acusou Antonin Scaff Haddad, ex-atleta universitário e treinador de tênis, que fez a denúncia e um vídeo explicando toda a situação.
Os Jogos Mundiais Universitários são o segundo maior evento esportivo do mundo, atrás apenas da Olimpíada de verão, com mais de 150 países participantes. O Brasil levou representantes em 11 das 18 modalidades na edição deste ano.
De acordo com Haddad, que disputou a edição de 2017 dos Jogos Mundiais Universitários, a ida de Leandro Cabral é, no mínimo, estranha. Antes da edição de 2023 na China, a CBDU informou que apenas o atleta campeão do torneio classificatório no tênis se garantiria para a competição, mas não foi isso que aconteceu, segundo ele.
"Em 2017, quando eu fui para os Jogos Mundiais Universitários, o anunciado foi que iriam os campeões dos dois torneios classificatórios. Como ganhei os dois, eu fui e o segundo lugar de um dos campeonatos também foi. Em 2019, era para ir somente o campeão de um dos torneios, que também venci. Mas justificaram com falta de verba e não levaram ninguém. Em 2021, não aconteceu a edição por causa da pandemia. Em 2023, o anunciado era que o campeão se classificaria e o Jackson Xavier conquistou a vaga. Fui acompanhar os jogos e vi o Leandro, sem nem mesmo saber como ele foi parar lá", comentou Antonin.
"Em algumas competições grandes do esporte universitário é comum uma espécie de escolha. Eles levam mais atletas de elite, aqueles que são mais conhecidos do grande público nas modalidades maiores e algumas menores levam o número mínimo, isso quando levam, e optam por levar mais dirigente e em alguns casos até familiares de dirigentes", explicou.
DIFERENÇA DE QUALIDADE
Nas partidas na China, a diferença de desempenho de Leandro Cabral para os demais tenistas só fez com que as dúvidas sobre como ele chegou aos Jogos Mundiais Universitários aumentassem. Nos três jogos que disputou, Leandro foi derrotado em todos sem conseguir fechar nenhum game e uma das partidas acabou em menos de 30 minutos.
"Depois que eu descobri o que tinha acontecido, acabei perguntando como ele foi parar na China e justificaram que ele estuda e joga tênis nos Estados Unidos. Eu conheço o nível americano universitário e sei que existem vários níveis lá. Conversei com algumas pessoas que estão nos Jogos Mundiais e vi os vídeos também. O que ele joga é coisa de atleta de quinta classe, de jogador de clube. Bem longe do nível competitivo esperado e necessário, muito inferior", disse Antonin.
POSIÇÃO DA CBDU E DO PRESIDENTE
A reportagem do <b>Estadão</b> entrou em contato com a CBDU e com seu presidente para saber se existia algum posicionamento sobre a denúncia do caso em questão e recebeu, através de mensagem pelo celular, a informação de que nenhum dos dois iria se pronunciar sobre o assunto. "A CBDU não vai se pronunciar, assim como Luciano Cabral".