Estadão

Filho de ex-ditador vence eleição nas Filipinas

Ferdinand Marcos Júnior, filho do ex-ditador filipino, venceu as eleições presidenciais com mais do dobro dos votos da candidata Leni Robredo, atual vice-presidente. O resultado, que deve ser anunciado oficialmente em alguns dias, representa o renascimento da família que foi forçada a partir para o exílio, acusada de corrupção, mas também levanta questões sobre o futuro da democracia nas Filipinas.

Cerca de 67 milhões de filipinos estavam habilitados a votas nas eleições de domingo, nas quais também foram eleitos um vice-presidente, deputados, a metade dos senadores e governadores de províncias.

Marcos obteve a maior margem de vitória desde a década de 80, quando Corazón Aquino foi eleita, após a deposição do ditador Ferdinand Marcos após uma revolta popular dos filipinos, que denunciavam corrupção e repressão.

O ex-ditador foi deposto em 1986 e morreu no exílio em 1989. Em 1991, a família Marcos foi autorizada a retornar às Filipinas. O filho de Marcos e Imelda logo começou a trabalhar para reabilitar o nome do clã e iniciar sua ascensão política, conquistando cargos em nível estadual, antes de se tornar senador, em 2010.

Marcos, de 64 anos, obteve o apoio de milhões de eleitores que ficaram desiludidos com o tipo de democracia de seu país e o fracasso em atender às necessidades básicas de seus cidadãos. A pobreza nas Filipinas é generalizada, a desigualdade aumentou e a corrupção continua desenfreada.

Os opositores de Marcos, no entanto, temem que, como presidente, ele apenas aprofunde a cultura de impunidade consagrada pelo presidente Rodrigo Duterte, que trabalhou para ajudar Marcos durante seu mandato.

<b>DUTERTE</b>

Analistas disseram que Marcos teve apoio da base de Duterte. Ela viu no filho do ex-ditador resquícios do governo anterior, comandado por um homem forte e autoritário, que continua popular nas Filipinas.

Muitos apoiaram Marcos porque Sara Duterte, filha do presidente, concorreu a vice-presidente em sua chapa. Ela deve conquistar o cargo com 24,4 milhões de votos, mais que o triplo do senador Francis Pangilinan, que concorreu na chapa de Robredo – nas Filipinas, presidente e vice são eleitos de maneira separada.

Para analistas, a vitória de Marcos levará a um grande retrocesso na democracia das Filipinas, onde as instituições foram enfraquecidas sob Duterte. A impunidade também pode prevalecer – Marcos, conhecido pelo apelido de infância "Bongbong", deu sinais de que protegerá Duterte de uma investigação do Tribunal Penal Internacional por sua violenta guerra às drogas que deixou milhares de vítimas.

<b>LEGADO</b>

Os críticos temem também que Marcos, que repetidamente disse que não pediria desculpas pelo legado de seu pai, também possa desmantelar a agência criada para investigar o dinheiro do governo que sua família é acusada de roubar.

Sua campanha se esforçou para apresentar o período da ditadura de Marcos como de desenvolvimento. O nome da família, porém, continua manchado entre muitos filipinos que a consideram um símbolo de ganância e dos excessos, acusada de saquear até US$ 10 bilhões do Tesouro das Filipinas.

A mãe do presidente eleito, Imelda, foi acusada de desviar milhões dos cofres públicos para manter seu estilo extravagante de vida e comprar joias e imóveis em várias partes do mundo – após a queda do marido, descobriu-se que a primeira-dama tinha uma coleção de cerca de 1.200 pares de sapatos.

A revolta popular foi vista como um modelo para muitos países com movimentos democráticos incipientes. "É decepcionante ver onde estamos nesta fase do jogo", disse Cleo Anne Calimbahin, professora da Universidade De La Salle-Manila. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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