O intervalo de tempo entre a ansiedade de ter o primeiro filho e a revolta de perdê-lo foi de aproximadamente nove horas para Daniella Climaco, de 24 anos. Ela chegou a maternidade Jesus, José e Maria na noite do último dia 17 sentindo fortes dores em decorrência da iminência do parto. "Estava tendo contrações de cinco em cinco minutos, mas não quiseram me internar. Me examinaram e mandaram eu voltar para casa e retornar quando as contrações estivessem de três em três minutos", explicou Daniella.
Mesmo contrariada e avisada pela médica de plantão da maternidade que talvez nem conseguisse chegar em casa devido a rapidez que as contrações poderiam aumentar, a gestante disse que começou a notar algo de estranho assim que chegou em sua residência. "As contrações começaram a ficar mais espaçadas ao invés de ficarem mais curtas. Comecei ficar preocupada e voltei ao hospital no início da manhã do dia 18", contou. Foi nesse momento que o pesadelo começou. "Fizeram um ultrassom e a médica não achou o coração do meu filho. Me disseram que ele poderia estar de costas. Mas nem assim me internaram. Fui ser internada por volta do meio dia, depois de ter chegado às 7h".
Daniella contou a reportagem do Guarulhos HOJE que no espaço de cinco horas – entre o ultrassom e a internação – ficou do lado de fora do hospital sem suporte de ninguém da maternidade. "Fiquei sentada lá fora já sabendo que algo de ruim tinha acontecido. Eu não sentia mais meu filho se mexer na barriga. Foi quando, antes de me internarem, a médica disse que não sabia o que tinha acontecido, mas o coração do meu filho tinha parado", relembrou ainda emocionada.
Agora, ela e o marido vão processar a maternidade por negligência médica. "Se tivessem feito cesariana quando eu cheguei na maternidade sentindo dores, ainda no dia 17, eu estaria com meu filho agora. Não pude nem ir ao enterro dele porque o hospital não me deu alta", desabafou.
A gestante registrou boletim de ocorrência no 6° Distrito Policial onde os envolvidos deverão ser ouvidos. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) sobre o motivo da morte da criança deverá sair na 2ª quinzena deste mês.
Para hospital, todos procedimentos foram acertados
O chefe da equipe de obstetrícia da maternidade JJM, Paulo Noronha, afirmou ao Guarulhos HOJE que todos os procedimentos feitos em relação a Daniella Climaco foram corretos. "Ela não estava em pós data de parto, ou seja, não estava com gestão superior a 40 semanas, o que caracterizaria alto risco. Ela tinha 39 semanas e 4 dias e, assim que ela chegou no dia 17, fizemos ultrassom,vimos que estava tudo bem, ela não estava em trabalho de parto e, por isso, demos alta com orientação médica", explicou.
Noronha disse também que a maternidade aguarda o laudo do IML para realmente saber o que causou a anoxia intrauterina (falta de oxigenação no cérebro). "Realmente não podemos explicar a morte da criança, pois todos os exames não indicaram nenhuma alteração. A maternidade fez todos os procedimentos possíveis", concluiu Noronha.