Damien Chazelle completa 32 anos na quinta-feira, 19, dia da estreia no Brasil de La La Land – Cantando Estações, que ganhou prêmio em Veneza (melhor atriz para Emma Stone), foi aplaudido em cena aberta em sessões de imprensa no Festival de Toronto e vem arrecadando prêmios da crítica e conquistando o público. Curiosamente, o filme abraça sem uma pitada de cinismo o romance e o musical, que andam bem fora de moda em Hollywood. A história de amor entre Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de jazz tradicionalista, e Mia (Emma Stone), uma aspirante a estrela em Hollywood, parece ser o antídoto perfeito para os tempos sombrios em que vivemos. “Não pensei nisso quando estava fazendo”, disse Chazelle ao Estado, em Toronto. “Mas certamente vivemos numa época mais cínica. Talvez isso signifique que há ainda mais razão para esse tipo de filme existir.” Ele escreveu o roteiro bem antes de Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014), que lhe rendeu uma indicação para o Oscar de roteiro adaptado e venceu três estatuetas (ator coadjuvante para J.K. Simmons, edição e mixagem de som). Graças ao sucesso do longa anterior, conseguiu aprovação e financiamento para fazer La La Land.
O novo trabalho surgiu como uma reação aos musicais contemporâneos. “Eles não são feitos da maneira como eu faria, são cheios de cortes. Gosto dos musicais antigos em que tudo parecia uma única sinfonia, eram muito elegantes”, afirmou. Sua inspiração está em produções como Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen, e Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy. “O que me chamou atenção primeiro foi a rebeldia do gênero. A ideia de que as pessoas vão começar a cantar, e daí? Há um veio experimental nos musicais, mesmo que, em sua era dourada, tenham sido a forma de arte mais populista e convencional. Gosto da energia e dessa disposição de quebrar regras. E, conforme fui me apaixonando cada vez mais pelo gênero, também descobri que eram os filmes mais sentimentais. Não eram apenas os filmes que mais me deixavam feliz como também os que me deixavam mais triste.”
Chazelle não queria, porém, que La La Land vivesse no passado. “O desafio permanente do filme era modernizá-lo. Queria ver se um musical à moda antiga funcionaria no mundo de hoje.” Isso significava tentar levar a tradição antiga ao limite. “Um número de Gene Kelly tem em média quatro cortes, então tentamos fazer zero. Tentamos ver até onde dava para ir. Às vezes, não dava certo”, contou Chazelle. “Claro que essa linguagem com tomadas longas está nos filmes de Vincente Minelli e Jacques Demy, mas ainda não tinha visto de forma tão tridimensional. Aqueles filmes tinham ainda alguma forma de proscênio. É o que (Martin) Scorsese disse sobre Touro Indomável: normalmente se viam filmes de boxe rodados a partir de fora do ringue. Ele foi para dentro. Algumas vezes não dava para saber o que estava acontecendo, havia um caos. Quis trazer isso para o musical.”
Como em grande parte dos musicais de antigamente, os números são espaçados, não há cantoria o tempo inteiro. A maioria acontece em locações e não em estúdio. Logo na abertura, um número que não poderia ser mais apropriado para Los Angeles, num congestionamento monstro numa das vias expressas fundamentais da cidade. Mas há outros em pontos bonitos da cidade, como o Griffith Observatory. “É uma cidade surreal, construída pelo cinema, com aquelas palmeiras gigantes. Sou da Costa Leste, não parecia uma cidade real para mim. Também é um lugar duro, que pode ser solitário e isolado.” Hoje, Chazelle é apaixonado pela cidade em que escolheu viver e isso transparece na carta de amor que é La La Land. “É a cidade do cinema, é a fábrica de sonhos, então como um apaixonado pelo cinema, para mim é a mais romântica do mundo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.