A 7ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental será aberta nesta quarta-feira, 30, às 20h, com Safári, perturbador filme do diretor austríaco Ulrich Seidl. A mostra exibirá 121 filmes de 31 países e já é considerada a mais importante da América do Sul dedicada ao cinema ambiental.
A Mostra Ecofalante inclui ainda uma retrospectiva dedicada ao cineasta alemão Werner Herzog e também uma homenagem ao ativista ecológico Chico Mendes, com exibição de Chico Mendes, Eu Quero Viver, de Adrian Cowell, e Crianças da Amazônia, de Denise Zmekhol. Traz também um exemplar do badalado diretor chinês Jia Zhang-Ke, Os Hedonistas, e Alforria Animal, de D. A. Pennebaker, um dos nomes centrais do chamado “cinema direto”. Enfim, há, na programação, obras com foco ambiental pinçadas entre diretores famosos e menos conhecidos, e também títulos com essa temática que tiveram destaque nos principais festivais de cinema do mundo, como os tradicionais Cannes, Berlim, Veneza, e os mais alternativos Sundance, Roterdã e Locarno.
Essa diversidade reflete a vocação heterodoxa da curadoria, que também trabalha com uma visão larga e pouco convencional da questão ecológica. Isso se vê já no filme de abertura, Safári, por certo uma obra de difícil definição.
Seidl é um diretor com fama de provocativo, que já havia causado bastante polêmica com sua trilogia Paraíso (Amor, Fé e Esperança). Conhecido por seu estilo de imagem cru e naturalista, gosta de registrar corpos em toda sua imperfeição, sem qualquer disfarce ou cosmética. E também de flagrar pessoas em situações pouco exemplares, como no turismo sexual europeu em países pobres.
Safári não foge à temática ou ao estilo do diretor, a não ser por um detalhe particular: é encenado à maneira de um documentário. É uma espécie de ficção documental, na qual a força das imagens lhe dão valor de verdade. Os personagens são austríacos ricos que viajam para a África para se dedicar à caça de animais selvagens, alguns deles em via de extinção. Esses predadores opulentos (e arrogantes) são vistos em conversas nas quais discutem o preço atribuído a cada animal pelos organizadores das viagens. Falam também da eficácia das armas e se entretêm com uma espécie de subfilosofia sobre a vida e a morte, e o nobre ato de matar animais indefesos. É grotesco. Mas o grotesco dá o tom de um filme tanto desagradável de ver como difícil de esquecer.
Também perturbadores, mas num nível de elaboração muito superior, estão os filmes de Werner Herzog. Em sua filmografia tensa, muitas vezes o mestre alemão coloca em crise a relação entre homem e natureza. Esse relacionamento é posto de maneira tensa, nada idílico ou idealizado. São os casos de alguns de seus clássicos que serão reapresentados, como Aguirre, a Cólera dos Deuses e Fitzcarraldo, ambos com Klaus Kinski. Aliás, a relação de Herzog e Kinski tampouco era amena. Pelo contrário. Brigavam como cão e gato e consta que Herzog teria encostado um rifle na cabeça de Kinski para obrigá-lo a terminar uma filmagem. Quem quiser saber mais sobre essa estranha parceria artística deve assistir ao documentário Meu Melhor Inimigo, de Herzog.
Ao longo da mostra haverá, além da exibição de filmes, seminários, workshops e debates. Entre eles, o laboratório A Prática do Cinema Documental, ministrado por Jorge Bodanzky, coautor (junto com Orlando Senna), de Iracema, uma Transa Amazônica, um clássico brasileiro que entrelaça a questão humana aos desafios ambientais. Outro workshop é O Audiovisual na Sala de Aula: A Arte a Favor do Meio Ambiente, do biólogo, ecólogo Edson Grandisoli.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.