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Filme revisita lendário Jackson do Pandeiro

Jackson do Pandeiro estaria completando nesta segunda-feira, 31, 96 anos. Morreu em Brasília depois de fazer um show, em 1982. Nascido em Alagoa Grande, Brejo Paraibano, José Gomes Filho foi um artista tipicamente autodidata – ainda criança, aprendeu o ofício de ritmista de vários instrumentos e de cantar primeiro tocando zabumba na banda da mãe. A formação artística se completaria ao frequentar clubes e cassinos de Campina Grande e de João Pessoa, além de trabalhar em rádios de João Pessoa e Recife. Ali, teve contato com outros ritmos como blues, jazz, tango, samba, baião. Logo, já se apresentava artisticamente como Jack do Pandeiro – o nome Jack seria rebatizado de Jackson, por Ernani Séve, e incorporado ao seu nome artístico.

Sua trajetória será contada no documentário Jacksons e Imagens (título provisório), dos diretores paraibanos Marcus Vilar e Cacá Teixeira, que está em fase de finalização. “Já rodamos 80% da história, fizemos várias entrevistas em cidades onde Jackson morou e em Brasília, onde morreria depois de fazer um show em 10 de julho de 1982”, revela Vilar.

A ideia de fazer um filme sobre Jackson do Pandeiro nasceu quase que simultaneamente na cabeça dos dois diretores. Marcus Vilar pensou no projeto depois de ler a biografia Jackson do Pandeiro, O Rei do Ritmo (Editora 34), de Fernando Moura e Antônio Vicente. O diretor pretendia contar a vida de Jackson em um documentário de curta-metragem. Já Teixeira, que residia no Recife, tinha em mente um curta ficcional sobre um dos vários episódios rocambolescos envolvendo o artista.

“Em 1955, Jackson já morava no Recife e trabalhava na Rádio Jornal do Commercio. Foi convidado para se apresentar num clube com a esposa Almira, morena bonita e dona de pernas de parar o trânsito. Durante a apresentação da dupla de cantores, um rapaz passou a mão nas pernas da Almira. Reza a lenda que Jackson, baixinho invocado, partiu para cima. Se alguém não socorresse e jogasse os dois do outro lado do muro do clube, eles teriam morrido”, conta Teixeira.

Depois que ficaram sabendo um do projeto do outro, decidiram se juntar e realizar um documentário de longa-metragem sobre Jackson. Para a empreitada, chamaram um dos autores da biografia do artista, Fernando Moura, que virou consultor do projeto e indicou aos diretores o elenco de entrevistados, não só os que ele e Antônio Vicente tinham feito para a biografia, mas outras pessoas que não entraram na época, como a da cantora Gal Costa, que regravou, em 1969, um dos grandes sucessos do cantor, Sebastiana, quando Jackson estava no ostracismo.

O projeto do documentário, orçado em R$ 800 mil, foi contemplado com dois editais – um da Paraíba, onde mora Vilar, de R$150 mil, e outro em Pernambuco, onde reside Cacá Teixeira, também de R$ 150 mil. “Temos ainda R$ 500 mil para captar e precisamos de parte desse dinheiro para fazer mais entrevistas e pagar direitos autorais de imagens e fotos do Jackson do Pandeiro”, explica Vilar, que pretende lançar o filme no próximo ano.

Os jornalistas Fernando Moura e Antônio Vicente eram amigos e planejavam fazer um livro sobre cantores paraibanos, mas, como a lista de nomes não parava de crescer, desistiram. “Foi aí que me veio o nome de Jackson do Pandeiro, já que todos os cantores paraibanos citavam seu nome como influência”, conta Moura.

Os autores dividiram as tarefas – Vicente cuidaria de fazer algumas entrevistas e transcrevê-las, enquanto Moura formataria o projeto e escreveria o livro. Em uma conversa com Gilberto Gil, receberam o conselho de procurar uma editora no Sudeste, já que Jackson do Pandeiro era um artista nacional. A editora 34 entrou no projeto depois que a pesquisa dos dois autores foi noticiada pelo jornal Correio Brasiliense.

Depois do lançamento do livro em 2001, os autores deixaram de se falar e passaram a se acusar mutuamente. “A editora 34 não queria colocar o nome de Antônio Vicente no livro. Insisti, pois trabalhamos juntos”, afirma Moura. Segundo ele, o contrato firmado entre Vicente e sua editora, Textoarte, deixava claro que a participação dele se resumia a 10% do projeto do livro, enquanto ele, Moura, detinha os outros 90%, pois fizera a maior parte da pesquisa, além da redação final.

Ainda segundo Moura, o pagamento realizado a Vicente por sua editora foi para custear seu trabalho, além de saldar uma dívida de R$ 3 mil. Vicente, por sua vez, disse desconhecer da partilha do projeto, já que fez a maioria das entrevistas e da pesquisa, além de descobrir o paradeiro da família de Jackson do Pandeiro e de outros nomes importantes. Segundo ele, os motivos do rompimento foram outros. “Desconfiei do Fernando já na divisão dos livros: ele recebeu trinta exemplares da editora, e só me passou três, mas minha parcela era de quinze livros. Durante a pesquisa, Fernando me pediu emprestados R$ 3 mil e nunca me pagou. Quando fui cobrá-lo, ele alegou que já havia me pago com o dinheiro da ajuda de custo de pesquisa que recebíamos da editora 34. Mas esse dinheiro não era dele, mas da editora, arrecadado via Lei Rouanet para pagar despesas com a pesquisa do projeto do livro”, esclarece. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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