As enchentes que causaram destruição e mortes no Rio Grande do Sul mobilizaram os brasileiros, mais uma vez, para ajudar as pessoas afetadas com dinheiro, produtos e tempo. Nesta terça-feira, 28, tem pré-estreia em São Paulo o filme <i>Doar</i>, que aborda essa cultura da doação no Brasil, destacando tanto a solidariedade dos brasileiros como as barreiras para transformar em hábito esse ato tão comum nos momentos de tragédia.
Dirigido pelo documentarista Sérgio Rizzo, o filme de 70 minutos expõe dois grupos de personagens: pessoas beneficiadas pelas doações e aquelas que trabalham com filantropia, organizando as doações. "É um filme sobre doadores individuais, portanto não aborda doações de milionários nem doações empresariais. O foco é entender o que move pessoas comuns, da classe trabalhadora, da classe média, a doar. E também (entender) o que é preciso que se faça para que a cultura da doação seja reforçada, expandida entre essas pessoas", conta Rizzo.
O filme foi idealizado por Joana Ribeiro Mortari, uma das fundadoras do Movimento Por uma Cultura de Doação, e Leonardo Brant, documentarista e sócio da Deusdará Filmes. "Há cerca de sete anos eles começaram a debater a iniciativa, e há aproximadamente três anos me convidaram para dirigir esse documentário. Tenho muito orgulho, abracei com muito entusiasmo, porque o tema me interessa", diz Rizzo.
O Movimento por uma Cultura de Doação é uma rede uma rede formada por pessoas e organizações que desde 2012 se articulam voluntariamente para enraizar a doação como parte da cultura do brasileiro. Todos os personagens do filme que trabalham com filantropia integram esse movimento. "São 19 entrevistas, que renderam material muito rico. Vamos divulgar em pequenos vídeos, que vão circular após o lançamento do filme", detalha Rizzo.
"Pude optar pelo recorte do filme, que é o de contar histórias de vida impactadas pela doação. A pesquisa foi feita inicialmente por mim, depois com ajuda da pesquisadora de personagens do filme, Mila Lobianco", conta o diretor.
Para selecionar os personagens do filme foram adotados os critérios geográfico e de variedade de organizações. "Era preciso ter uma amostragem minimamente nacional, ou pelo menos termos representantes de todas as regiões do Brasil. Mesmo que no filme não se veja, está por trás: nós falamos com pessoas de todas as regiões. O dramático é que em 70 minutos não cabe tudo, é preciso escolher. Além do geográfico, (outro critério foi) o da variedade de organizações da sociedade civil", afirma o diretor.
O filme trata também das dificuldades para tornar as doações um ato corriqueiro, não uma atitude restrita aos momentos de tragédia. Segundo o Movimento por uma Cultura de Doação, muitos brasileiros não doam por não confiarem nas Organizações da Sociedade Civil (OSCs), por não entender o que elas fazem e qual é a função delas.
Por isso, o diretor destaca a importância de dar mais visibilidade para pessoas e organizações como as que são retratadas no filme, para que esse trabalho seja divulgado. "Falar sobre doação no Brasil é de fato um tabu. Muitas pessoas no País consideram, por motivos variados, que não se deve falar sobre isso", diz Rizzo. "A simples existência do documentário favorece a discussão de temas que ainda não circulam como muitos de nós gostaríamos que circulassem", conclui.
"Uma cultura de doação perene acontece a partir de um processo de conscientização da população sobre a importância do papel do setor social, que é diferente e complementar ao do Estado, da importância do trabalho das organizações sociais e de reconhecer a importância de cada um de nós no financiamento de uma sociedade civil forte e vibrante", afirma a idealizadora do filme, Joana Mortari.
O filme é uma produção da Deusdará Filmes com patrocínio da RD Saúde via Lei Federal de Incentivo à Cultura. A pré-estreia gratuita acontece nesta terça-feira, 28, a partir das 19h30, no Espaço Augusta, na Consolação (região central de São Paulo). Após a fase de pré-estreias, o filme será disponibilizado nas plataformas de streaming, segundo a assessoria.