Estadão

Fim da quarentena expõe Minhocão como uma galeria de arte ao ar livre

Um dos símbolos da predominância da cor cinza no centro de São Paulo, o Minhocão vislumbra horizontes mais coloridos. Literalmente. As laterais dos prédios que acompanham o viaduto estão recebendo murais artísticos gigantes. Com o fim do isolamento social imposto pela pandemia, a mudança é flagrante. São 42 obras de arte finalizadas ou em andamento, nos dois sentidos da via que liga as zonas leste e oeste. No início do ano, era quase metade deste número.

Na prática, percorrer os 3,5 quilômetros do Elevado Presidente João Goulart – de carro, a pé ou de bicicleta – é também olhar uma galeria de arte ao ar livre. Os trabalhos são assinados por artistas como @nosartivistas, Kobra, Tek e Sapatintas, todos debutando na exposição de obras em empenas – o nome técnico das laterais sem janelas dos prédios.

A região também coleciona trabalhos de artistas e pensadores de outras áreas que trataram da ocupação do espaço público na mostra de arte urbana Brasileires, do início do ano.

Entre eles estão o cantor e compositor Carlinhos Brown, o ex-deputado federal e professor Jean Wyllys e a filósofa e artista plástica Márcia Tiburi. "A arte oferece para nós essa oportunidade de verdadeiramente utilizar a cidade como esse útero, afinal, se acorda para renascer", afirma Brown.

<b>O VÓRTICE</b>

A paisagem também vê um encontro de gerações. Aos 19 anos, a artista Kiki Cozz respeitou as pichações originais da fachada do prédio 447 da Rua Amaral Gurgel, que estavam lá há alguns anos. O projeto se adaptou a elas, mas alguns moradores reclamaram que as pichações foram mantidas. A quarteirões de distância, em frente à Igreja da Consolação, o coletivo Os Tupys voltou à ativa para comparar o atual momento histórico a uma panela de pressão. A obra é de 2018, logo após ser eleito o presidente Jair Bolsonaro.

O Minhocão também traz o tom da luta contra o preconceito. O artista Denilson Baniwa está por trás do Autorretrato, obra que faz referência a jovens indígenas que saem das comunidades para estudar e trabalhar.

Os murais mudam a impressão de quem está de passagem, mas sobretudo dos que moram ali. Subsíndico do edifício Caripe, Amilton de Campos se orgulha especialmente da pintura das cores do arco-íris, uma das três obras feitas no endereço. "O prédio virou referência."

Para os estabelecimentos comerciais, a pintura virou um diferencial. Como o Bê Hotel, que recebeu duas obras no mês passado, que serão renovadas periodicamente. "Cerca de 50% dos nossos hóspedes vêm à cidade a turismo, pensando na programação cultural e artística. Estamos nos especializando neste público", conta o empresário Márcio Ribeiro, um dos sócios. No Minhocão, parte dos murais é feita com apoio de empresas privadas.

Segundo o produtor cultural Kleber Pagú e a bailarina Fernanda Bueno, que atuam para ampliar a "ocupação artística", há mais 93 empenas cegas prontas para receber instalações artísticas. "Nosso desejo é que o Minhocão abrigue cerca de 140 obras gigantes de arte urbana, num inédito corredor de arte vertical", diz Pagú, codinome de Kleber Dias, de 34 anos. "Esse cenário pós-pandemia favorece a ocupação dos espaços públicos pela arte", acrescenta Fernanda.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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