Economia

Finep decide virar sócia de empresas

Criada para estimular a inovação no Brasil no fim dos anos 60, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) pretende ir além das linhas de crédito e virar sócia de empresas de tecnologia. A Finep já levantou R$ 500 milhões em um fundo para comprar participações em empresas e fechou o primeiro negócio em março. Com a nova atuação, a Finep retoma uma política abandonada nos anos 80 e assume junto com as empresas o risco do negócio.

Hoje, o principal instrumento utilizado pela Finep para apoiar as empresas nos seus projetos de inovação são os empréstimos. O volume de recursos liberados atingiu R$ 4,5 bilhões em 2014, alta de 77% em relação ao desembolso de 2013. Mas a visão da Finep é a de que só o crédito não basta. “Muitas empresas de tecnologia não têm garantias para oferecer e não se enquadram nas linhas de crédito”, explica o gerente do Departamento de Investimento em Participações da Finep, Augusto da Costa Neto.

Para atender essas empresas, a financiadora se tornou cotista de fundos de capital semente, venture capital e private equity, que fazem aportes em empresas com potencial de crescimento em troca de uma participação acionária. Desde 2000, a Finep comprou cotas de 34 fundos, que investiram em cerca de 100 empresas. Mas a financiadora não pode selecionar as empresas beneficiadas.

“Observamos que muitas empresas não eram atendidas pelos fundos e decidimos formatar um fundo próprio”, explica Costa. Segundo ele, os fundos privados, especialmente os de private equity, que investem em empresas maiores, ainda são arredios a negócios com risco tecnológico. Em geral, esses fundos compram empresas visando a uma rápida expansão e ganho de eficiência com melhorias na gestão, mas dificilmente entram em negócios que dependem de saltos tecnológicos para prosperar.

De olho justamente nesses negócios, a Finep lançou o FIP Inova Empresa para comprar participações de empresas médias e grandes de setores considerados prioritários pelo governo, como aeroespacial, tecnologia da informação e agronegócios. A primeira aquisição foi uma fatia de 20% na holding gaúcha Parit, por R$ 50 milhões. A intenção da Finep é fomentar o negócio e depois revender sua participação, possivelmente, por meio de uma abertura de capital (IPO, na sigla em inglês).

A Parit é dona da empresa de automação industrial Altus e da fabricante de cápsulas para semicondutores HT Mitron. “Chegamos a negociar com fundos privados, mas é difícil para eles entender o nosso mercado. Com a Finep foi mais fácil, já tínhamos uma relação de 30 anos negociando linhas de crédito”, explicou um dos fundadores do grupo, Luiz Gerbase.

Após fechar o primeiro negócio, a Finep tem sido procurada por cerca de cinco empresas por semana para apresentar seus plano de negócios. Já há uma aquisição na fase de due diligence (checagem financeira) e outras duas em análises avançadas. Questionado se a Finep pode ter seu orçamento cortado em meio ao ajuste fiscal, Costa diz que os recursos para esse fundo já estão captados.

Risco

O apoio a inovação por meio de compra de participações envolve um risco maior. Se a empresa for mal, a Finep pode perder todo ou parte do capital investido. O BNDES, por exemplo, que tem política semelhante, registrou perda contábil de R$ 2,6 bilhões só com ações da Petrobrás em 2014. Costa diz que a Finep faz a gestão do risco do negócio e que os investimentos visam o lucro. “Mas, mais do que isso, queremos possibilitar o nascimento de empresas com tecnologia nacional.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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