A manutenção da taxa de inflação da capital paulista em 0,54% na terceira leitura de junho, em relação à segunda, surpreendeu o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), André Chagas, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que esperava uma alta inferior, de 0,46%. “Erramos feio. Imaginávamos que a desaceleração começaria, dando início ao processo que se estende para julho e agosto”, disse, referindo-se à fase de preços ao consumidor mais comportados que normalmente acontece nesta época do ano, especialmente puxada pelos alimentos.
Neste cenário de novas pressões inflacionárias, o economista alterou a projeção para o IPC fechado deste mês, de 0,37% para 0,49%. O motivo, disse, é a pressão extra nos preços de produtos industrializados, devido a repasse de custos com energia e dos efeitos da depreciação cambial. Para o ano, a projeção para o IPC segue em 6%. “Mas, com certeza, pode aumentar”, adiantou.
Apesar da deflação de 0,69% dos in natura, após inflação de 0,13% na segunda medição do mês, os itens industrializados – não somente os produtos alimentícios (industrializados) -, tiveram maior influência de alta sobre o IPC da terceira quadrissemana (últimos 30 dias terminados na segunda-feira, 22), disse Chagas. “Alimentação surpreendeu mais. Fechou em 0,86% e esperávamos 0,69%. Acreditávamos que fosse contribuir para a desaceleração. O subgrupo de industrializados foi o principal responsável pela aceleração”, explicou.
De acordo com a Fipe, os industrializados tiveram alta de 1,34% ante 0,95%. “As altas no subgrupo foram um tanto quanto generalizadas. Os derivados de leite subiram (2,23%), em parte refletindo o aumento do leite em si (5,05%). As pesquisas mais recentes sugerem que o movimento, infelizmente, pode persistir”, afirmou, completando que os derivados de carne e alimentos semiprontos e prontos também tiveram alta no período, de 2,25% e 1,39%, respectivamente.
Os alimentos semielaborados também aceleraram o ritmo de elevação entre a segunda e a terceira leitura do mês, de 0,83% para 0,90%, especialmente devido ao avanço nos preços do leite (5,05%). “Ao contrário do que vinha acontecendo antes”, lembrou Chagas.
Em relação aos alimentos in natura, o economista ressaltou que o tomate “vem desempenhando seu papel”, ao registrar queda de 12,71% na terceira quadrissemana. “Está caindo e, junto com outros produtos como legumes, verduras e frutas, está ajudando o subgrupo in natura”, disse.
Já a cebola continuou cara na capital paulista, destacou Chagas, ao referir-se à variação de 39,40% na terceira leitura do IPC de junho. “Mas já está desacelerando. Está perdendo o ímpeto de alta. Daqui a três semanas, mais ou menos, pode ser que estejamos falando em queda da cebola”, estimou. “Neste grupo, a alta em jogos lotéricos atingiu o pico, já deve pressionar menos na próxima leitura”, disse.
Loterias
Além da surpresa com a alta no grupo Alimentação, Chagas não contava com uma variação de 0,88% para Despesas Pessoais na terceira medição de junho, mas de 0,61%. Segundo ele, a aceleração influenciada pela maioria dos itens que compõem o grupo, como viagem/excursão (2,11%), artigos de higiene e limpeza (1,08%), serviços pessoais (0,67%), além de loterias e outros jogos (36,94%).