Um debate sobre o aspecto moderno e democrático da arquitetura brasileira provocou reações políticas durante a mesa que reuniu a cantora e compositora Adriana Calcanhotto e os arquitetos Guilherme Wisnik e Nuno Grande, durante a Flip 2019. O motivo foi a apresentação de uma foto do então deputado federal Jair Bolsonaro no momento em que votava a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Nesse momento, a plateia dividiu-se entre vaias e aplausos, ambos entusiasmados.”Considero esse fato um golpe de morte”, comentou Wisnik, novamente dividindo o humor dos espectadores.
A projeção daquela imagem marcava a reta final da exibição de fotos que mostravam historicamente a construção e ocupação de Brasília. “Oscar Niemeyer e Lucio Costa seguiram o conceito do (então presidente) Juscelino Kubitschek de instalar em Brasília uma nova identidade brasileira”, observou Grande. “Também as superquadras, divididas pelo paisagismo de Burle Marx, transformavam aquele lugar em algo mágico.”
Wisnik lembrou uma observação de Mario Pedrosa, um dos maiores críticos de artes plásticas do País, para quem o carro-chefe do modernismo no Brasil foi a arquitetura, justamente por se tornar universal. “Ela também influenciou outras artes, como a Poesia Concreta.”
A imagem da inauguração de Brasília, em que as pessoas caminharam no teto do Congresso Nacional também revelou o que, no entender de Grande, o povo esteve acima do poder.
A evolução histórica chegou até a exibição da foto de Bolsonaro – nesse momento, Grande dizia: “Em Brasília, houve momentos alegre e momentos…”, quando apontou para a imagem, projetada às suas costas, provocando a reação dividida entre vaias e aplausos.
Em seguida, surgiu no telão a imagem mostrando o muro temporário que foi levantado em Brasília no dia da votação do impeachment. “Burle Marx jamais pensaria em ver uma imagem como essa”, disse Wisnik.