Sem sua principal estrela, Roberto Saviano – o italiano jurado de morte pela máfia que cancelou, na segunda, a vinda por questões de segurança -, e com ingresso sobrando para 6 das 22 mesas e vagas em pousadas, que já fazem promoção na tentativa de atrair hóspedes, a Festa Literária Internacional de Paraty abre nesta quarta, dia 1.º, sua 12.ª edição.
O curador Paulo Werneck ainda procurava, nesta terça-feira à noite, o substituto de Saviano, autor de “Gomorra”, que lhe rendeu a tal sentença e o incômodo de viver sob proteção policial, e de “Zero Zero Zero”, sobre o tráfico internacional de cocaína. “A discussão que ele traz é importante e vamos tentar manter o problema do tráfico em debate”, diz. Paraty, apesar do cenário idílico, fica numa das regiões mais violentas do Rio – também por causa das drogas.
Mas a programação vai além dos cancelamentos, que sempre acontecem. Participam, este ano, nomes como o tasmaniano Richard Flanagan, mais recente Booker Prize, que divide o palco, na sexta, 3, com o queniano Ngugi wa Thiongo; e a britânica Sophie Hannah, considerada a herdeira de Agatha Christie, que conversa, no domingo, com o cubano Leonardo Padura.
O debate político, tão presente nas duas últimas edições – em 2013, pela onda de protestos, e em 2014, pelos 50 anos do golpe militar -, deve voltar à cena no sábado, na mesa que reunirá os cartunistas Riad Sattouf, ex-colaborador do Charlie; Plantu, cartunista do Le Monde; e Rafa Campos, também cartunista e autor de Deus, Essa Gostosa.
Temas como família, memória, neurociência, urbanismo, cidade e música, entre outros, e suas conexões com a literatura estarão em pauta. Na lista de convidados, nomes como Colm Tóibín, Ayelet Waldman, Beatriz Sarlo, Boris Fausto, Ana Luisa Escorel, Arnaldo Antunes e Sidarta Ribeiro.
A abertura, nesta quarta, às 19 h, será sobre o homenageado: Mário de Andrade. Falam sobre o autor do recém-publicado Café, romance inacabado e até então inédito, a crítica literária argentina Beatriz Sarlo; a pesquisadora brasileira Eliane Robert Moraes e Eduardo Jardim, o primeiro biógrafo do modernista. Sua obra, com as mais distintas facetas, será debatida em outras mesas do evento. E é justamente apoiado num dos múltiplos interesses do homenageado que o curador justifica a escolha do músico paratiense Luís Perequê para o show de abertura – que até a semana passada não ocorreria. “Procuramos fazer um show adequado à Flip e ao Mário, que se voltou à questão do folclore e dos músicos locais. Será um show no chão, com as cirandas de Paraty”, conta.
Orçada em R$ 7,4 milhões – em 2014, ela custou mais de R$ 8 milhões (mas o orçamento inicial era de R$ 9,3 milhões) -, a Flip não esgotou os ingressos este ano, explica a organização por meio de sua assessoria, porque colocou um lote extra de mil unidades à venda – essa quantidade, nos outros anos, era destinada aos apoiadores. A tenda principal tem lugar para 850 pessoas e o valor da entrada subiu de R$ 46 para R$ 50.
Quem não se animar a ir, mesmo com a possibilidade de comprar os ingressos lá e com vagas nas pousadas (algumas desistiram dos pacotes e já aceitam reservas por dia), e ainda quiser acompanhar pode assistir pelo site da Flip, Arte 1 e Itaú Cultural. Estando lá, há ainda muitas atrações gratuitas organizadas por editoras e outras instituições. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.