O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que, no momento em que começa mais um Fórum de Davos, a economia global "enfrenta talvez seu maior teste desde a Segunda Guerra". O quadro de invasão militar da Rússia na Ucrânia, preços elevados de alimentos e energia e de pressão sobre famílias pelo mundo leva muitos países e companhias a reavaliar suas cadeias de produção global, em meio a persistentes problemas. Há, nesse contexto, o risco de "fragmentação geoeconômica", adverte o Fundo, que defende uma resistência global contra esse fenômeno.
O alerta está em texto publicado nesta segunda-feira no blog do FMI, assinado pela diretora-gerente da instituição, Kristalina Georgieva, por Gita Gopinath, primeira vice-diretora-gerente do FMI, e por Ceyla Pazarbasioglu, diretora do Departamento de Estratégia, Política e Revisão.
O trio lembra que o mundo já enfrentava os efeitos da pandemia da covid-19, por isso há crises sobrepostas. Existe ainda maior volatilidade nos mercados e a ameaça continuada das mudanças climáticas, com uma potencial "confluência de calamidades", sustenta o trio do FMI.
Nas últimas três décadas, as forças de integração global garantiram avanços em fluxos de capital, bens, serviços e pessoas, ajudando a disseminar novas tecnologias e ideias. Essas forças ajudaram a melhorar a produtividade e a qualidade de vida. O sucesso, porém, também trouxe "complacência", com o aumento da desigualdade dentro dos países. Tensões sobre comércio, padrões tecnológicos e segurança têm crescido há anos, minando o crescimento e mesmo a confiança no atual sistema econômico global, dizem elas.
Desde o início da guerra na Ucrânia, cerca de 30 países restringiram o comércio em alimentos, energia e outras commodities importantes, contabiliza o Fundo. Ele alerta que o custo de uma maior "desintegração" seria enorme entre os países, com impacto negativo para pessoas em todas as faixas de renda e provavelmente inclusive aumentando a imigração em busca de melhores trabalhos.
Cadeias de produção globais reconfiguradas poderiam significar preços mais altos em alguns produtos nos países desenvolvidos e menor receita com exportações para os em desenvolvimento, adverte o Fundo.
O FMI sugere, nesse contexto, quatro passos: o fortalecimento do comércio, com redução de barreiras para reduzir pressões sobre os preços de alimentos e outros itens e com diversificação nas exportações; esforços conjuntos para lidar com a dívida – ele lembra que quase 60% dos países com baixa renda possuem vulnerabilidades significativas em dívidas e que alguns deles precisarão de reestruturação; modernização dos pagamentos para além das fronteiras nacionais; e enfrentar as mudanças climáticas.
Na avaliação do Fundo, não há solução mágica para evitar formas mais destrutivas de fragmentação global. Ele defende, porém, que trabalho conjunto nessas frentes pode ajudar a construir uma economia global "mais forte e mais inclusiva".