O Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou que a inflação é atualmente fator de "preocupação" na América Latina e no Caribe, mencionando também que as expectativas para a trajetória inflacionária estão desancoradas na Argentina. As declarações foram dadas durante entrevista coletiva por Nigel Chalk, diretor interino do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, em evento para marcar a publicação de relatório sobre a região.
No documento, o FMI elevou sua projeção para crescimento econômico da América Latina e do Caribe em 1,7 ponto porcentual ante a estimativa de abril, a 6,3%, além de esperar avanço de 3% para 2022. Por outro lado, Chalk notou que a inflação "sem dúvida" é um fator de cautela, diante de fatores como problemas na cadeia de produção e o avanço recente nos preços das commodities, que reverberam pelo mundo. Isso já leva vários bancos centrais da região a elevar juros para conter o quadro, apontou, projetando que esse aperto deve continuar a ocorrer. Caso a inflação fique desancorada na região, os bancos centrais terão de agir "de modo decidido" para conter o quadro, advertiu.
O crescimento exibe desigualdades entre os países, disse ele, citando também a desigualdade na recuperação do emprego na área. A autoridade do FMI comentou que os países da região devem se preparar para a retirada de estímulos no mundo desenvolvido, sobretudo nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) caminha para reduzir compras de bônus e há especulações sobre eventual alta nos juros em algum momento de 2022. "O custo do capital deve subir na América Latina, com impacto para o crescimento."
Chalk ainda tratou do quadro na Argentina. Além de mencionar as expectativas de inflação desancoradas, ele disse que o Fundo trabalha com autoridades do país "em várias frentes" para ajudar a melhorar o quadro. Ele considerou que houve "boas reuniões recentes" em Washington com autoridades como o ministro da Economia, Martín Guzmán, e não descartou que uma equipe do FMI possa ir a Buenos Aires para prosseguir o diálogo, sem citar datas. A Argentina busca fechar novo pacote de ajuda com o FMI, sem prazo para isso por ora.
Outro país com o qual o FMI mantém diálogo é El Salvador, que também busca ajuda. Chalk disse que o Fundo vê "questões em aberto" sobre a adoção pelo país do bitcoin como moeda, diante de riscos como os derivados da volatilidade da criptomoeda, entre outros problemas. Ele afirmou que o FMI conversa com El Salvador sobre esses riscos e trabalha para que o país possa minimizá-los.