Em certo momento do disco What Went Down, Yannis Philippakis, vocalista do Foals, grita em desespero: “O que aconteceu com aquilo que acreditávamos?”. Pessimismo não é a palavra mais correta para descrever o novo disco do Foals por trazer uma ideia pejorativa que não combina com a trupe de Oxford, na Inglaterra.
Não, o grande descontentamento evocado naquele verso da música A Knife in the Ocean, e em tantos outros deste quarto álbum do grupo, é fruto de um amadurecimento pelo qual qualquer um passa nas proximidades dos 30 anos. É enfrentar o choque avassalador de perceber a diferença entre expectativa e realidade, sonhos e realizações, três décadas de vida depois. Para Philippakis e companhia, é o suficiente para ser combustível para essa nova transformação de uma banda já conhecida pela mutação constante.
Agora, com What Went Down, lançado nesta sexta, 28, pela Warner Music, a banda soa mais raivosa e barulhenta. Punk nas palavras vociferadas por Philippakis, como na faixa-título: “When I see a man, I see a liar” (“quando vejo um homem, vejo um mentiroso”, em tradução literal). Em contrapartida, ele, Jack Bevan (bateria), Jimmy Smith (guitarra), Walter Gervers (baixo) e Edwin Congreave (teclado) nunca criaram melodias tão complexas.
É esse trabalho, aliás, que dará o tom sombrio das duas apresentações do grupo no Brasil, as primeiras “solo”, em São Paulo e Rio, respectivamente, nos dias 7 e 8 de outubro. A quarta passagem do grupo por terras brasileiras é a primeira na qual o Foals é a atração principal da noite. Em 2008, era uma banda então recentemente notada que foi escalada para o festival Planeta Terra, em São Paulo. Em 2011, já embalados com o segundo disco, Total Life Forever (2010), foram escolhidos para abrir as apresentações do Red Hot Chili Peppers no Brasil. Há dois anos, o grupo voltou a ser escalado para um festival paulistano, no Lollapalooza, e infelizmente cedo demais.
Assim como os discos anteriores, What Went Down foi registrado longe de Oxford, cidade ainda considerada a base da banda. Desta vez, os integrantes passaram por uma temporada em Saint-Rémy-de-Provenc, na França, com o intuito de gravar no estúdio chamado La Fabrique. Produzido por James Ford (responsável por tornar o Arctic Monkeys novamente roqueiro no novo álbum, por exemplo), nasceu no que o guitarrista Jimmy Smith diz ser um “estúdio dos sonhos”. “Eram equipamentos maravilhosos dos anos 1980. Estávamos num paraíso”, explicou o músico, ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone.
A experiência de viver por dois meses na bucólica região de Provance, garante Smith, se transmite nos momentos mais solares do disco, algo que não estava previsto quando o grupo deixou Oxford em direção à França. “O disco acaba refletindo a ideia desse convívio por dois meses. É sempre interessante sair da sua rotina para se dedicar à criação de algo tão complexo quanto um disco”, disse. “É também importante para ajudar a deixar todo o processo com alguma novidade e excitante para todos nós.”
Depois de lançar os bons álbuns Antidotes (2008), Total Life Forever (2010) e Holy Fire (2013), o Foals encara o dilema de ser uma banda já formada, diante da busca por inspiração e razão para seguir em frente. A proximidade dos 30 anos e seus questionamentos naturais só trazem mais angústia para o caldo. “Sim, admito que estamos soando mais pesados”, completou Smith. “Mas não é algo que programamos antes. Não foi nada científico, calculado. Aconteceu naturalmente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.