“O livro é um tesouro com histórias que guardamos na memória. Ele, o livro, pode ir.” Esta é uma das premissas do Freguesia do Livro, projeto de Curitiba (PR) idealizado por Josiane Mayr e Ângela Marques Duarte, que recebe e distribui livros literários gratuitamente.
Quando e por que começou o trabalho do Freguesia?
A ideia de facilitar o acesso aos livros nasceu de um desejo de promover leitura entre as pessoas que são leitoras e entre aquelas que ainda não descobriram a leitura. Trabalhamos durante 25 anos como fonoaudiólogas e os livros tinham papel fundamental no desenvolvimento da linguagem dos pacientes. A Freguesia do Livro é uma referência ao compartilhamento de livros justamente porque levamos títulos escolhidos especialmente para as pessoas que irão recebê-los. Mais que doação de livros, nosso foco é o conceito de compartilhamento. Você doa algo que alguém precisa, e esse livro será lido por pessoas que têm pouco acesso a eles.
Qual é o maior desafio? Doação de livros de boa qualidade literária ou em bom estado?
O maior desafio é fazer com que as pessoas leiam e com que os leitores entendam que precisam incentivar seu entorno a ler. A cultura de doação no Brasil parte do princípio de que você doa o que está estragado ou lhe é inútil. Ao contrário, para incentivar leitura é preciso que você cative um novo leitor doando bons livros, com assuntos interessantes e volumes em bom estado.
Do que vocês assistem, o que mais impressiona?
Nosso propósito é mudar a ideia do não leitor que diz “eu não gosto de ler”. Achamos que a pessoa ainda não encontrou um livro que combine com ela. Por isso, propomos uma caixa de livros com gêneros variados, possibilitando assim que o indivíduo escolha diferentes livros até encontrar algo que lhe interesse. Porém também é importante o estímulo contínuo: você só vai gostar de ler, lendo. Assim, incentivamos que quem gosta de ler se torne um agente de leitura. É preciso indicar ao colega uma leitura que fez e gostou, afixar uma crônica no quadro de avisos do elevador, comentar sobre artigos que leu, etc. Só acesso ou a enorme quantidade de livros publicados anualmente no Brasil não bastam se não se investirmos na formação de quem deve se interessar por todos esses livros, os leitores. O que mais impressiona? Que exista tanta gente querendo doar livros, que exista tanta gente querendo receber livros.
Vocês usam o termo “consumo consciente do livro”. Do que se trata exatamente?
As pessoas que têm apreço pela leitura em geral têm livros amados. Porém, ser um leitor significa entender as possibilidades que a leitura pode trazer à sua maneira de se relacionar e entender a sua comunidade, o mundo ao seu redor. Incentivamos a doação e a criação de mais leitores e queremos que o mercado editorial compreenda que de nada adianta a publicação de milhares de títulos se não estamos criando leitores melhores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.