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Formada em Detroit nos anos 1970, Death vem ao País pela primeira vez

A morte está chegando e, neste caso, é uma notícia boa: a banda norte-americana Death, formada nos anos 1970 em Detroit, vem ao Brasil pela primeira vez esta semana para tocar em São Paulo e Curitiba. E se fosse apenas pelas músicas imprevisíveis e o rock-n-roll agressivo, rápido, criativo, cheio de mensagens positivas, que antecedeu o punk rock (em pelo menos um ano) e o hardcore (em pelo menos dois), esses já seriam eventos imperdíveis.

Mas o Death tem uma história que, sozinha, também seria capaz de arrebanhar fãs de boa música – os mesmos que esgotaram dois dias de ingressos no Sesc Belenzinho, onde a banda toca na quinta, 4, e sexta-feira, 5. O outro show é no sábado, 6, no Curitiba Rock Carnival Festival – e eles vêm com álbum novo na bagagem, N.E.W., de 2015.

“Nós estamos esperando pessoas que amam o rock-n-roll”, diz bem-humorado Bobby Hackney, baixista e vocalista do Death, por telefone, de Burlington, Vermont, em um bate-papo da banda com o Estado. “Disseram que as pessoas em São Paulo realmente gostam de música e bom rock-n-roll. E de discos de vinil. Estamos ansiosos.”

Os três irmãos Hackney – Bobby, Dannis e David – eram adolescentes numa época em que Detroit produzia música boa como que ao abrir as torneiras, o começo dos anos 1970: Iggy Pop e os Stooges, MC5, Alice Cooper, os grandes clássicos do soul com a gravadora Motown, e vários outros.

“Nós éramos adolescentes normais, como todos nossos amigos, íamos a shows, e a razão pela qual nós podíamos fazer isso não era porque tínhamos dinheiro, é porque minha mãe era casada com um cara que tinha um emprego de chefia de segurança na Cobo Arena, na área central de Detroit, e então a gente entrava de graça.”

O trio resolveu tocar rock a sério depois de ver, nesse lugar, Pete Townshend e o Who.

A banda começou como Rock Fire Funk Express. Com a impressão profunda que a morte do pai dos quatro irmãos (o mais velho, Earl, nunca fez parte da banda) deixou e sob a liderança espiritual de David, o trio mudou o nome para Death (morte). “Death is real” (a morte é real), diria David na época, para convencer os irmãos.

Os shows deles, naquela época, eram escassos e “ruins”, segundo a banda. “A questão é que nos shows nós fazíamos esse som barulhento, com as viradas e os crescendos do rock-n-roll, para um clube cheio, e todo mundo quieto, olhando para nós. Aí vinha um cara mais velho e dizia: Está muito alto. E sentava de novo”, ri Bobby.

Mesmo assim, a forte aliança que se criou entre os três, sob as ideias criativas, originais e místicas de David, produziu ensaios diários em um dos quartos da casa, um contrato breve de produção e sessões de gravação no estúdio United Sounds, algumas músicas para um álbum, uma fita master e um vigoroso EP de sete polegadas, lançado de maneira independente em 75 – o único lançamento da banda em 30 anos.

O nome era um problema sério. O fato de três garotos negros estarem fazendo rock-n-roll visionário, também. Todas as gravadoras rejeitaram o explosivo álbum de aproximadamente 30 minutos – o ritmo acelerado, visceral, direto e cru que seria conhecido, depois de Ramones e Sex Pistols (e muitos outros), como punk rock. Até que a então novíssima Arista Records ofereceu US$ 20 mil, com a condição de que a banda mudasse o nome. David disse não.

O tempo passou, as rejeições foram se acumulando, Bobby e Dannis se mudaram para Burlington e formaram o Lambsbread, grupo de reggae, o sustento dos dois pelos anos 1980 e 90, quando ambos encontraram esposas e tiveram família.

David morreu em 2000 – após anos e anos de tentativas, sonhos e viagens, o homem que criou a Morte e era tido pelos próximos como um gênio muito único perdeu a vida para um câncer de pulmão. O líder espiritual do Death nunca viu a banda alçar voo e alcançar o paraíso underground em que eles se encontram agora.

Oito anos depois, o single do Death, Politicians in My Eyes, começou a frequentar listas de colecionadores de vinil como um item raríssimo, e com o aval de Jello Biafra e outros músicos, criou-se um status cult: o 7″ chegou a ser vendido por US$ 800 no eBay. O que aconteceu em seguida foi que os filhos de Bobby Hackney – Bobby Jr., Uriah e Julian – meio que sem querer descobriram que seu pai e seus tios haviam formado uma banda punk em Detroit antes de o punk existir. O fato de o som ser bom demais era quase difícil de acreditar – eles formaram uma banda chamada Rough Francis e saíram em turnê tocando músicas do Death.

A história começou a correr e um selo indie de Chicago, o Drag City, ajudou a produzir a fita master que os irmãos tinham guardado desde 1975: …For The Whole World To See, o primeiro álbum do Death, com as gravações originais, chegou às lojas, com 34 anos de atraso. Bobby e Dannis convidaram Bobbie Duncan, do Lambsbread, para assumir a guitarra. Em 2012, veio A Band Called Death, o filme, e então o sucesso no círculo punk rock ao redor do mundo. “Nós estamos comprometidos com o manifesto que inventamos nos anos 1970, com David”, diz Bobby. “For The Whole World To See. E é isso. Vamos ver para onde esse trem vai nos levar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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