Estadão

Forte alta inesperada de juros expôs fragilidades do sistema financeiro, diz integrante do BCE

Integrante do conselho do Banco Central Europeu (BCE), Isabel Schnabel afirmou que a forte alta inesperada nas taxas de juros expôs fragilidades do sistema financeiro que estavam se acumulando ao longo do período de baixas taxas. Desde então, foram observados episódios repetidos de estresse financeiro em partes diferentes do mundo, apontou Schnabel nesta sexta-feira.

"Muitos deles estão, de uma forma ou de outra, relacionados ao ambiente de taxas de juros em rápida mudança. Historicamente, os ciclos globais de aumento das taxas de juros muitas vezes coincidiam com bancos ou outras dificuldades financeiras", discursou Isabel, na Conference on Financial Stability and Monetary Policy, em Londres.

Na sua análise, os próprios bancos centrais subestimaram a possibilidade do retorno da inflação elevada e persistente, quando adotaram política monetária expansiva e incentivaram a tomada de riscos durante os anos anteriores de inflação baixa. "Os BCs precisam refletir sobre como tais fatores podem ter contribuído para o acúmulo de fragilidades financeiras", afirmou.

No entanto, o ambiente atual de taxas de juros em mudança, disse Isabel Schnabel pode dar um novo impulso à conclusão da União Bancária europeia – o que ela considerou como um dos passos mais importantes da integração europeia.

Para a integrante do BCE, formuladores de política monetária não podem abordar questões de solvência, sob domínio das autoridades fiscais. "Na verdade, se fizessem isso, correriam o risco de passar por cima do seu mandato e pôr em perigo a sua independência", ponderou.

Isabel Schnabel disse que a separação entre considerações de estabilidade monetária e financeira é possível se os distúrbios que afetem o sistema financeiro forem causados por disfunções de mercado e problemas de liquidez, e não por questões de solvência.

O caso do Silicon Valley Bank (SVB), por exemplo, teria sido provocado mais por uma questão de insolvência que de falta de liquidez, segundo ela. "Em casos assim, injeções de liquidez por parte de bancos centrais provavelmente são insuficientes, o que implica que os governos precisam intervir", afirmou.

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