Estadão

França é maior empregador estrangeiro no Brasil, mas irrelevante para Guedes

Apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito que a França está ficando "irrelevante" para o Brasil – além de outras declarações de mais baixo calão – o país europeu é o maior empregador estrangeiro e o terceiro que mais investe em território brasileiro. Além disso, as exportações para a França vêm crescendo 18% neste ano.

Na terça-feira, Guedes criticou a França e chegou a usar um palavrão ao referir-se ao país. "Vocês França estão ficando irrelevantes para nós. É melhor vocês nos tratarem bem porque senão vamos ligar o f…-se para vocês", disse o ministro. Procurada, a embaixada não quis comentar as declarações de Guedes.

De acordo com dados da embaixada da França em Brasília, o número de empresas francesas no Brasil chegou a 1.042 em 2019, último dado disponível, empregando 471.784 funcionários e um volume de negócios de 66,1 bilhões de euros.

Dados do Banco Central mostram ainda que, em 2020, o investimento francês no Brasil somou US$ 32,255 bilhões, 6% do total investido no setor produtivo por outros países. Os franceses ficaram atrás apenas dos Estados Unidos, com investimento de US$ 123, 853 bilhões (24%) e Espanha, com US$ 58,215 bilhões (11%).

<b>Comércio</b>

O comércio com o país europeu também vem crescendo neste ano. De acordo com dados do próprio Ministério da Economia, as exportações para os franceses cresceram 18,3% neste ano e somam R$ 1,796 bilhão até julho. O país ocupa o 26º no ranking de maiores compradores do Brasil, à frente de nações como Rússia, Uruguai e África do Sul.

Se para o ministro a França é "irrelevante" para o Brasil, a posição que os brasileiros ocupam no ranking de clientes dos franceses é ainda pior: os brasileiros são os 29º maiores clientes de itens da França. Já na importação, enquanto a França é o 11º maior vendedor do Brasil, o Brasil é apenas o 36º maior fornecedor de produtos para a França.

Em 2011, as exportações para os franceses chegaram ao patamar de US$ 4,3 bilhões, quando entraram em trajetória de queda até 2017, quando iniciaram uma recuperação até a pandemia. Em 2021, as vendas para a França fecharam o ano com alta de 25,9% . O desempenho superou o encolhimento registrado com a pandemia de 2020, quando as vendas ao exterior caíram 24%.

Entre os principais produtos vendidos de 2022 estão farelo de soja (24%), minério de ferro e concentrados (13%), celulose (6,8%) e café (6%).

De janeiro a julho deste ano, as importações de produtos franceses pelo Brasil subiram 5,7%, alcançando US$ 2,834 bilhões. Com isso, o saldo neste ano é desfavorável aos conterrâneos do ministro: negativo em US$ 1,038 bilhão.

Da França, o Brasil compra principalmente itens que são utilizados na produção brasileira, como motores e máquinas (15%) e compostos organo-inorgânicos (8,4%), além de medicamentos e produtos farmacêuticos (5,2%) e partes e acessórios de produtos automotivos (4,8%).

<b>Diplomacia</b>

Não foi a primeira vez que Guedes se envolveu em uma "saia justa" com os franceses. Em 2019, ele chegou a pedir desculpas depois de dizer que a primeira dama da França, Brigitte Macron, era "feia mesmo", concordando com afirmação anterior de Jair Bolsonaro.

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