França suspende todos os voos com o Brasil

O governo francês decidiu suspender "até novo aviso" todos os voos entre Brasil e França por causa de preocupações em torno da variante brasileira da covid-19, anunciou nesta terça-feira (13) o primeiro-ministro Jean Castex. "Constatamos que a situação está se agravando e por isso decidimos suspender até novo aviso todos os voos entre Brasil e França", explicou o chefe de governo durante sessão de perguntas na Assembleia Nacional.

A situação de saúde no Brasil não parou de se agravar desde fevereiro, em parte, devido ao aparecimento de uma variante do vírus, conhecida como P1, considerada mais contagiosa e perigosa. Embora na França a variante brasileira P1 represente apenas 0,5% dos casos diagnosticados, onde a cepa britânica é predominante, os profissionais da saúde vêm alertando há alguns dias para a disseminação dessa cepa. A oposição exigiu que o governo interrompesse os voos com o país. "No início, pode parecer trivial, depois pode aumentar muito rapidamente", comentou o epidemiologista Antoine Flahaut no jornal <i>Le Parisien</i>.

Com mais de 99.000 mortos e quase 6.000 pacientes em unidades de terapia intensiva, a França ainda sofre com a terceira onda de coronavírus e os indicadores não mostram melhora, deixando em aberto a questão sobre um relaxamento das restrições.

<b>Pressão</b>

A pressão para suspender os voos para o Brasil cresceu na França. O líder da oposição conservadora na Assembleia Nacional, deputado Damien Abad, disse nesta terça-feira que o fechamento das fronteiras é "útil e absolutamente necessário", no momento em que especialistas alertam sobre a gravidade da pandemia no Brasil e recomendam a adoção de um isolamento obrigatório e vigiado de pelo menos dez dias a todos os viajantes provenientes do país.

O pediatra Rémi Salomon, presidente da comissão profissional de médicos que trabalham nos 39 hospitais públicos da região parisiense, defendeu que a França faça como Portugal, que interrompeu temporariamente voos provenientes do Brasil.

Até o momento, a variante brasileira P1 representa apenas 0,5% dos casos diagnosticados no território francês. Mas devido à falta de controle da epidemia no Brasil, as mutações tendem a se multiplicar e se tornar resistentes às vacinas, advertem os especialistas.

O ministro francês dos Transportes, Jean Baptiste Djebbari, havia afirmado na segunda-feira que a França é obrigada a manter as conexões aéreas com o Brasil, segundo um parecer do Conselho de Estado, instância que avalia o cumprimento da Constituição. "O Conselho de Estado nos disse que cidadãos franceses e residentes na França, em nome da liberdade de circulação, devem poder continuar a vir, o que não foi o caso de Portugal ou de outros países", explicou.

<b>Ameaça</b>

O jornal <i>Le Parisien</i> entrevistou vários médicos sobre os riscos que representam as variantes brasileiras. O epidemiologista Antoine Flahault, da Universidade de Genebra, destacou que apesar de a cepa britânica ser atualmente predominante no território francês e nos países europeus, uma mutação vinda do Brasil pode ser a próxima ameaça às campanhas de vacinação na Europa.

"A cepa P1, de Manaus, matou milhares de pessoas na Amazônia, mas agora existe também a variante P2 e a terrível Belo Horizonte, que combina 18 mutações", diz o diário francês. Rémi Salomon também defende nas páginas do <i>Parisien</i> um reforço dos controles nos aeroportos e uma quarentena compulsória dos viajantes.

Atualmente, a entrada de brasileiros ou de europeus provenientes do Brasil foi restringida a mil pessoas por semana nos países da União Europeia, mas basta uma dezena de casos positivos para que a forma mais agressiva da covid-19 se espalhe no bloco.

O virologista Bruno Lina, membro do conselho científico que assessora o presidente Emmanuel Macron, disse ao jornal francês que a variante brasileira é mais perigosa do que a britânica porque escapa da vacinação. O mesmo acontece com a variante sul-africana.

Enquanto a P1 brasileira é responsável por 0,5% dos casos na França, a cepa sul-africana chegou a 5%. Bruno Lina critica a falta total de controle da epidemia no Brasil, que cria o ambiente para a emergência de mutações do vírus resistentes aos anticorpos produzidos pelos imunizantes, desenvolvido em tempo recorde. (Com agências internacionais)

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