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Francisco Maurício Marino: “Só polícia não vai resolver o problema da cracolândia”

Comandante superintendente de Operações da GCM fala sobre o papel da corporação

O comandante superintendente de Operações da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo, Francisco Maurício Marino, de 53 anos, entrou na corporação um ano e meio depois de ela ter sido criada – a GCM surgiu em 1986, no governo de Jânio Quadros.

De lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive a missão da GCM, que passou a atuar como polícia preventiva. Em 2011 foram atendidas 3.964 ocorrências de roubo, furtos, agressão, desacato, acidente de trânsito, ameaça, entre outros, sem contar orientações, ações de saúde e sociais, que somaram mais de 6 mil ocorrências. Apreensões de itens como CDS, DVDs, eletrônicos e alimentos foram mais de 280 mil.

Entre agosto e setembro do ano passado, por exemplo, durante a greve dos funcionários do serviço funerário, Marino fugiu das atribuições e determinou que os guardas fossem dirigir os carros de translado de corpos. "Pelo espírito colaborador, se houvesse a necessidade, trabalharíamos até como coveiros", observou.

Nesta entrevista à Revista Free São Paulo, o comandante falou sobre a atuação na cracolândia, afirmando que "só polícia não vai resolver o problema" e garantiu que apesar do efetivo – 6.500 homens – ser insuficiente para atender a demanda da cidade, a GCM vem cumprindo sua missão.

– Quais os pontos mais críticos de São Paulo para atuação da Guarda Civil Metropolitana?

Marino – São Paulo como um todo é crítica de se trabalhar. É uma cidade muito grande. Para cada região é um tipo de problema, um tipo de situação e um tipo de solução. Na área sul, com a represa de Guarapiranga, a GCM atua muito na questão ambiental; na área central, com toda a população que passa, ela tem ocorrências policiais. Por exemplo, neste programa Nova Luz – que começou no último dia 3 de janeiro – efetuamos prisões e apreendemos 100 pedras de crack.

– Como está sendo a atuação da Guarda Civil Metropolitana na cracolândia?

Marino – A GCM está atuando como sempre atuou. Sempre fez encaminhamentos de pessoas com ações voltadas à dignidade, apreendeu drogas, fizemos encaminhamos para hospitais etc. Fizemos 1.325 abordagens em pessoas em situação de risco, isso desde o dia 3 de janeiro.

– O senhor acredita que a região central, um dia, ficará livre da cracolândia?

Marino – Olha, esse problema é mais que policial. É social. Temos que trabalhar integrado a outras áreas do governo, porque só a policia não vai resolver. É um conjunto de ações que você tem que fazer para que isso resolva, e a população tem que colaborar. Nada hoje em dia em São Paulo se vai conseguir fazer isoladamente e pra ontem.

– Por que tantos problemas entre a GCM e os camelôs? Existe mesmo um clima de animosidade com esse pessoal?

Marino – Um dos programas da Guarda é fazer a proteção do espaço público. E automaticamente está voltado ao ambulante, mas ao ambulante ilegal. Existe sim uma animosidade por parte do ambulante ilegal. A Guarda tem que deixar as pessoas trabalharem. Não haverá espaço para os ambulantes ilegais trabalharem. Eles terão que procurar outro ramo de atividade.

– Quantos homens fazem parte do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo?

Marino – Temos hoje com uma média de 6.500 integrantes entre homens e mulheres. A nossa lei prevê 15 mil integrantes. Portanto, nós estamos com 50% do efetivo.

– Será realizado concurso público este ano?

Marino – A previsão é que teremos em 2012 mais 2 mil integrantes entrando na corporação por meio de concurso público. Eles serão chamados paulatinamente. O concurso está em fase de edital.

– Qual a previsão para se atingir a meta dos 15 mil homens na GCM?

Marino – Se a gente formar, a cada ano 2 mil integrantes, em mais 5 anos a gente consegue ter todo esse efetivo.

– Mas o número de GCMs hoje – 6.500 homens – é suficiente para atender São Paulo?

Marino – De forma alguma. Eu diria que a gente consegue atender a demanda, mas não com a excelência da qualidade que deveria talvez ser atendida. Claro que, se tivéssemos mais [homens] seria melhor do que normalmente atendemos. O nosso secretário [Edsom Ortega, de Segurança Urbana) tem investido muito na corporação em equipamentos, em gerenciamento de planejamento, realizando muitos cursos de capacitação, mas o homem sempre é o principal instrumento de uma corporação. Hoje a GCM de São Paulo é a melhor e a maior da América do Sul.

– Existem rusgas no relacionamento com a Polícia Militar?

Marino – No início da corporação existia isso. Hoje, o relacionamento com a Polícia Militar do Estado de São Paulo é muito bom. É lógico que numa corporação com 6,5 mil homens tenhamos um ou outro probleminha para resolver, mas de maneira geral nós trabalhamos de forma integrada.

– Quais são os limites da Guarda Civil Metropolitana?

Marino – A Guarda está estruturada de acordo com as subprefeituras. Se nós temos 31 subprefeituras, temos 31 unidades da GCM e divididas em cinco comandos – Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro. A PM já tem uma divisão diferente, mas isso não atrapalha muito. A Guarda é um policiamento preventivo. Se estou vendo um ilícito a gente atua. A população espera isso da corporação. A gente também atua na área policial, mas não é o foco da corporação.

– A missão da GCM mudou?

Marino – A nossa missão, nesta gestão, é sempre estar perto da população e sempre atuar em prol do cidadão.

– Mas a Guarda não foi criada para preservar os prédios públicos?

Marino – Essa questão foi ultrapassada, as coisas evoluíram. A cidade de São Paulo quer mais. Eu não posso dizer que meu guarda só atua em proteção aos bens, serviços e instalações. A GCM atua onde precisa atuar. A necessidade da cidade quer que a gente evolua nos atendimentos. Atuamos na proteção escolar, no patrimônio público, na proteção ambiental, na proteção ao agente público, na proteção ao espaço público e na proteção de pessoas em situação de risco. Com isso, ela atua em São Paulo inteiro. E a GCM desempenha também o trabalho policial preventivo. Nosso foco não é sair na rua e prender bandidos, mas se precisar a gente vai atuar.

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