Estadão

Funai de Atalaia do Norte suspende atividades por motivos de segurança

Um mês após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, a coordenação regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Atalaia do Norte (AM), decidiu suspender as atividades "por motivos de segurança". Em ofício enviado a dez organizações indígenas da região do Vale do Javari, o órgão afirma que a interrupção de atendimento ao público ocorrerá "até que as devidas providências sejam tomadas para a garantia da integridade física e psicológica de servidores e dos indígenas".

O documento foi obtido pela agência Fiquem Sabendo, especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI). No ofício, a Coordenação Regional do Vale do Javari relata um "sentimento de exposição, vulnerabilidade e insegurança de toda a equipe".

O comando do setor cita, além dos assassinatos de Bruno e Dom, em junho, e do colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, em 2019, um episódio ocorrido em 1º de julho. Segundo a coordenadoria, dois homens "não-identificados de suposta nacionalidade colombiana" estiveram no local por volta das 15h, "fato considerado suspeito por parte dos servidores desta Unidade Regional, que gerou medo e pânico diante da situação de insegurança enfrentada por todos".

"Diante do risco real de atos de violência física serem cometidos contra esta Coordenação, assim como ao público por esta atendido, resolvemos suspender as atividades de atendimento ao público e restringir nossos trabalhos apenas a questões internas e de caráter emergencial, até que sejam tomadas as devidas providências que assegurem a continuidade dos trabalhos desta coordenação com a garantia da dignidade e do bem estar físico e psicológico de seus servidores e funcionários", informou.

Ao <b>Estadão</b>, Beto Marubo, um dos líderes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), afirmou que o clima na região é "muito tenso". Segundo ele, não houve nenhuma "providência concreta" por parte do Estado brasileiro após os assassinatos de Bruno e Dom, apenas "retórica". "O que a gente imaginava é que depois de todos os acontecimentos no Vale do Javari, a gente supunha que o Estado brasileiro passasse a atuar, pelo menos nesse momento", disse. "Mas o Estado brasileiro ainda continua se abstendo da sua responsabilidade e esse é um exemplo infeliz como essa situação tem impactado no serviço público federal. É irônico. A própria Funai não consegue proteger nem os próprios servidores deles quem dirá os povos indígenas."

A Coordenação Regional do Vale do Javari fica no município de Atalaia do Norte. O setor atua junto aos povos indígenas das etnias Matis, Mayuruna e Marubo e é responsável por coordenar e monitorar a implementação de ações de proteção e promoção dos direitos de povos indígenas na região. Por exemplo, regularização de documentos e proteção territorial.

No mesmo documento, a coordenação relata ter questionado a presidência da Funai, em 18 de junho, sobre as "medidas que estariam sendo tomadas pela gestão do órgão" para garantir a integridade física e psicológica de servidores, funcionários e indígenas. A Funai é presidida pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier. Segundo o setor regional, não houve "respostas práticas" até esta quarta-feira, 6.

As mortes de Bruno e Dom completaram um mês na terça-feira, 5. O brasileiro e o britânico faziam expedição por comunidades indígenas do oeste do Amazonas quando foram assassinados a tiros, de acordo com a Polícia Federal. Dos presos até o momento, um pescador confessou ter atirado contra os dois enquanto eles atravessavam um dos rios da região, conhecida pelo tráfico internacional de armas, drogas, pescado ilegal e outros crimes. Procurada nesta sexta-feira, 7, a Funai não se manifestou.

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