O corretor Lúcio Funaro e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ) ficaram frente a frente na tarde desta quinta-feira, 26. É o primeiro encontro dos dois desde que a delação de Funaro, que implica diretamente o peemedebista, veio a público. Os dois, que estão presos, participaram de audiência na 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília.
Delator e delatado são réus na Operação Sépsis, que investiga desvios em contratos do FI-FGTS, administrado pela Caixa. A previsão no calendário da Justiça Federal é que Funaro e Cunha prestem depoimentos nesta sexta-feira, 27.
Nesta quinta, o juiz Vallisney de Oliveira interrogou o também delator Fábio Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loteria da Caixa. Em delação premiada, Cleto afirmou que Cunha e Funaro intermediavam o repasse de propina para garantir a empresas a liberação de contratos com a Caixa. No depoimento desta quinta-feira, Cleto corroborou as informações prestadas em delação.
Ele foi ouvido por meio de videoconferência. No depoimento, falou que sua indicação para a Caixa foi patrocinada por Cunha. Segundo ele, Lúcio Funaro disse que entregaria o currículo do administrador a Cunha, quem, por sua vez, iria repassar o nome ao então líder do PMDB na Câmara, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves. Todos são réus na ação que tramita na 10ª Vara de Brasília, assim como Alexandre Margotto.
Cleto afirmou que mantinha Funaro e Cunha informados sobre as empresas que tentavam operações com o FI-FGTS. Os dois a partir daí procuravam as empresas para negociar pagamento de propina e davam sinal a Cleto sobre como ele deveria votar naquela operação. “Aprovada, algum tempo depois eles me comunicavam o porcentual que supostamente tinham conseguido e me pagavam um porcentual disso, pré-aprovado”, afirmou Cleto.
Segundo ele, 80% da propina arrecadada era destinada a Cunha e 20% para Funaro. Dos 20% do corretor, uma parte (20%) era destinada a Cleto e outra (20%) para Alexandre Margotto – ex-sócio de Cleto, quem o apresentou ao operador.
Ele disse nunca ter questionado o alto valor destinado a Cunha. “Nunca foi citado nominalmente para quem seria ou qual seria metodologia de distribuição, mas era claro que não era esse 80% para a conta dele só. Não me pareceu (Eduardo Cunha) uma pessoa ambiciosa de querer ter grandes fortunas. Acredito que tinha uma função institucional de arrecadação”, afirmou Cleto, ao ser questionado se tinha ciência de distribuição da propina arrecadada por Cunha dentro do PMDB.
“Meu objetivo era passar quatro anos na Caixa, valorizar meu currículo e voltar para o mercado privado, que era onde eu sempre ganhei bastante dinheiro, ganhava bônus bem agressivos. Eu sabia que o lugar para ganhar dinheiro com consciência limpa era o mercado privado”, afirmou Cleto. Ele recebeu valores em conta no exterior.
Ele disse ao juiz que fazia reuniões com Cunha todas as terças-feiras às 7h30 da manhã, no apartamento funcional do então deputado ou na residência oficial, quando o peemedebista assumiu a presidência da Câmara.
O interrogatório de Cleto deve continuar na manhã desta sexta-feira, 27. Além dele, há previsão de ouvir Cunha, Funaro, Henrique Eduardo Alves e Margotto.