O empresário Miguel Abuhab é um homem rico. Ele mesmo disse isso em entrevista à revista Época Negócios quando perguntado sobre como foi o dia em que bateu o sino da Bovespa ao lançar as ações da Datasul, do ramo de informática. O “rei do software”, como é conhecido, vendeu sua empresa duas vezes: uma na bolsa, a outra para a Totvs, arrecadando mais de R$ 1 bilhão entre os anos de 2006 e 2008.
Com dinheiro no bolso, aplicou no mercado financeiro. Mas perder não estava no script. Tanto não estava que Abuhab partiu recentemente para a briga com a Governança & Gestão Investimentos, do ex-ministro Antonio Kandir, e o HSBC. Pede uma indenização milionária às duas instituições, acusando-as de terem negligenciado a gestão de seus recursos.
A acusação que paira sobre a gestora de recursos de Kandir e a distribuidora do banco, que agora pertence ao Bradesco, é de que eles não obedeceram e observaram os limites das regras de aplicação em dois fundos exclusivos de Abuhab: o MAP e o Babel. A gestora teria aplicado dezenas de milhões de reais em opções de ações, uma forma de apostar alto na bolsa de valores, extrapolando os limites permitidos nos regulamentos dos fundos.
Já o HSBC, como administrador do fundo, não teria fiscalizado a gestão como determina sua função. As perdas estimadas teriam chegado, durante o ano de 2012, a R$ 50 milhões.
O caso corre na Justiça de São Paulo e está em fase de perícia, para analisar o valor do prejuízo, eventuais descumprimentos das regras dos fundos e se de fato houve perdas. O escritório Pinheiro Neto, um dos mais renomados do País, faz a defesa da G&G.
No processo, os advogados dizem que, assim como em alguns períodos o empresário perdeu dinheiro, em outros ganhou com as mesmas operações. Se reclama do prejuízo, também teria, da mesma forma, de devolver os ganhos.
Esse não é o primeiro processo contra a G&G. A família do empresário chinês Shan Ban Chun também acusa a gestora de ter realizado operações alavancadas no mercado de opções de ações que não estariam previstas no regulamento do fundo da família, o Bird. As perdas chegaram a R$ 460 milhões.
Além da G&G, a acusação também recaiu sobre o BTG Pactual, administrador do fundo. O banco não teria fiscalizado corretamente a gestora e também é acusado de ter potencializado as perdas, com cálculos equivocados, fazendo com que as margens solicitadas fossem punitivas e obrigando o encerramento das operações de derivativos no pior momento.
O banco alega que a família tinha pleno conhecimento do que se fazia no fundo e que Chun era conhecido por ter feito fortuna no mercado de derivativos de soja. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo há dois anos e meio.
Bilionário chinês, naturalizado brasileiro, Chun criou a empresa Eleva, que era dona dos leites Elegê e da Avipal, do ramo de frangos. Mais tarde, a companhia foi vendida para a Perdigão – que se uniu à Sadia, dando origem à BRF.
O empresário faleceu no ano passado, antes de ter visto qualquer andamento mais concreto do processo judicial, aberto em 2013. No caso da família Chun, nem a perícia foi iniciada. Os advogados da família, do escritório Dinamarco Rossi Beraldo & Beraque Advogados, não quiseram falar sobre o caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.