O nível de inadimplência nas carteiras dos bancos está sendo acompanhado de perto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), especialmente com a revisão das projeções do mercado de corte da taxa Selic neste segundo semestre, além do aumento da exposição dos poupadores às instituições menores.
O diretor executivo do FGC, Daniel Lima, afirmou que o volume de depósitos entre as instituições de menor porte – classificadas pelo Banco Central como S2, S3, S4 e S5 – dobrou em pouco mais de dois anos, velocidade nunca vista anteriormente. Segundo ele, de R$ 1,86 trilhão em depósitos que compõe o limite de cobertura do fundo, R$ 320 bilhões são de instituições S2, S3, S4 e S5. Esse risco era de cerca de R$ 150 bilhões antes da pandemia, diz Lima.
Criado em 1995, o fundo tem a função e ressarcir depositantes e investidores em caso de intervenção e liquidação extrajudicial de uma instituição financeira, respeitando determinados limites de valores.
"É um aumento que precisa ser observado. O risco está crescendo e tem mais depósitos no mercado em instituições não S1", disse Lima. Ele ponderou que esse crescimento fora do S1 é natural, como reflexo da popularização de corretoras e distribuidoras de valores mobiliários e da agenda de descentralização do mercado. "Antes, quem queria captar tinha de gastar muita sola de sapato, agora está mais fácil", lembrou.
O FGC começou a publicar mensalmente o detalhamento da exposição de sua cobertura entre as instituições financeiras S1 (de porte igual ou superior a 10% do PIB) e as S2 (abaixo desse patamar, mas superior a 1% do PIB). Lima disse que o fundo sempre teve essa visão segmentada de sua exposição, mas que resolveu torná-la pública para aumentar a transparência e dar ferramentas de análise de risco ao mercado.
Segundo ele, a inadimplência é uma questão que tem permeado as preocupações de todo o sistema financeiro, que, por sua vez, já vem se preparando para a nova realidade de pelo menos um ano e meio de inflação mais alta e de taxa de juro em patamar mais elevado. "Temos conversado bastante com as associadas, não enxergamos nenhum risco grande, mas é um período em que temos de estar de olho e para ser acompanhado de perto", afirmou.
<b>MEDIDAS</b>
Lima observou ainda que, com a inadimplência no radar, os bancos anteciparam a gestão de suas carteiras, com mudanças nas linhas de concessão para àquelas mais seguras, renegociações de contratos e tomada de mais garantias, especialmente de empresas. "Mas as instituições terão de trabalhar muito ainda."
De olho na sua própria liquidez, Lima disse que o FGC tem reciclado seu patrimônio, tendo vendido metade das matrículas da carteira de imóveis do fundo e carteiras de crédito, entre 2020 e 2021. O executivo afirmou que o FGC não abre esses números detalhadamente em seu balanço, inclusive para preservar a estabilidade do sistema e não gerar especulações.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>