Economia

Fundos de pensão contrariam práticas de mercado nos aportes em empresas

Os fundos de pensão quebraram as principais práticas de mercado na hora de investir o dinheiro de seus pensionistas em private equity (compra de participações em empresas). A avaliação consta em estudo sobre o investimento em private equity de 45 fundos, elaborado pela escola de negócios Insper, e foi corroborada por cinco gestores do setor consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Realizado em parceria com a Spectra Investments e concluído no início deste ano, o estudo mostra que os fundos de pensão – e em especial os do setor público, como Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (Correios), citados na Operação Greenfield – ignoraram o que “é benchmark (referência) internacional na gestão de private equity”, diz a professora responsável pelo levantamento, Andréa Minardi, pesquisadora do Centro de Estudos de Finanças do Insper.

Entre as divergências de estratégia entre os tradicionais gestores globais e os fundos de pensão do Brasil, o estudo cita a concentração do capital em fundos monoativos – que investem em um só negócio. Esses veículos de investimento foram criados para aplicar dinheiro em empresas como Sete Brasil (fabricante de sondas para a Petrobrás, que viu todo seu capital virar pó), Eldorado (indústria de celulose da holding J&F, dona do JBS) e ATG (projeto de bolsa de valores para rivalizar com a BM&FBovespa, que ainda não começou a operar).

Uma fonte próxima a um grande fundo de pensão do País disse que o investimento na Sete Brasil foi feito no auge do pré-sal, com apoio de grandes investidores, incluindo bancos privados, que acreditavam no potencial do negócio. “Olhando em retrospecto, ninguém poderia imaginar o esquema de corrupção por trás disso”, frisou. Em outros casos de aportes, ele reconheceu que as decisões foram mais políticas do que estratégicas.

Um gestor de fundo internacional, no entanto, disse que um profissional experiente apontaria diversas “luzes amarelas” relativas à construção de sonada para a Petrobras. “A Sete Brasil era uma empresa iniciante, que teria um só cliente, para fazer um produto que nunca havia sido fabricado no País antes”, explicou. “Os perigos eram óbvios, tanto que nenhum fundo estrangeiro entrou na operação.”

Na maior parte das vezes, o investimento em private equity é feito em uma empresa com vários anos de mercado, e não em negócios “nascentes”, como Sete Brasil e ATG.

A professora do Insper lembra que, ao investir em startups, a praxe é o fomento a um número razoável de empresas, com valores pequenos aplicados em cada uma delas. “O ganho em um negócio pode, assim, compensar perdas em outros.” No caso dos fundos brasileiros, apenas o investimento na Sete Brasil contabilizou bilhões de reais. “A decisão de investimento de parte desses fundos não tinha perfil profissional”, disse outro grande gestor.

O estudo da Insper também mostra que os fundos de pensão tendem a alocar uma grande proporção dos recursos em setores específicos. Quase a metade (49%) dos investimentos em private equity dessas entidades se concentrou em infraestrutura. Entre os fundos de pensão brasileiros, mas do setor privado, a concentração neste setor cai para 30%; no exterior, respondem por 8% do total.

Gestão

Outra decisão questionável dos fundos de pensão foi a contratação de gestores pouco experientes para gerir os aportes em private equity. O estudo do Insper mostra que, em 84% dos casos, os investimentos ficaram a cargo de empresas com pouca tradição. “E isso considerando que o critério não é muito rigoroso neste sentido”, disse Andrea.

O valor cobrado por essas gestoras ficava muito abaixo do mínimo que o mercado considera razoável no setor, que é de 0,5% ao ano. O gestor de um fundo de private equity disse que, no Brasil, os fundos de pensão assumem a responsabilidade pelo investimento. “Por isso, não há muito critério na seleção dos gestores”, afirmou.

Em linha com o que apontam o estudo do Insper e os profissionais de mercado, relatório divulgado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público nesta semana mostrou que, em alguns casos, empresas fizeram avaliações conservadoras sobre ativos em que os fundos de pensão pretendiam investir. As recomendações, no entanto, acabaram ignoradas.

Outro lado. Questionados sobre as críticas às suas teses de investimento, Funcef e Petros não responderam até o fechamento da edição. A Previ informou, por meio da assessoria, que não comentaria. O fundo Postalis disse não ter ativos no setor de óleo e gás e que faz uso de “quase todos os produtos disponíveis no mercado”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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