Estadão

Futuro presidente chileno terá de negociar com Congresso dividido

Com projetos antagônicos, candidatos de dois extremos disputarão o segundo turno no Chile. O ultraconservador José Antonio Kast e o socialista Gabriel Boric, no entanto, terão de moderar o discurso para negociar apoio do centro. Além disso, quem vencer, se quiser governar, terá de construir laços com um Congresso fragmentado.

"Cada candidato representa uma ala da sociedade chilena. O Congresso está fragmentado, tende a ser multipartidário. Portanto, qualquer um dos dois terá de construir uma maioria, uma boa relação com a oposição e a Constituinte", afirma Pamela Figueroa, professora da Universidade de Santiago do Chile.

Kast, advogado de 55 anos, de extrema direita, foi o mais votado no primeiro turno de domingo, mas com apenas 27,9% dos votos. Durante a campanha, ele manteve um discurso de candidato da ordem, após os distúrbios que começaram em 2019 e deixaram um saldo de 34 mortos.

Boric, deputado e ex-líder estudantil, de 35 anos, candidato de uma aliança de esquerda que inclui o Partido Comunista, teve 25,8% dos votos. Ele se identifica com os protestos sociais de 2019, que levaram à formação de uma Constituinte, e fala em combater a desigualdade com um novo modelo de país.

<b>RENOVAÇÃO</b>

Mais da metade dos deputados eleitos é de estreantes na política. Por isso, ainda é cedo para dizer para qual lado do espectro ideológico pende a balança e quais alianças poderão se formar. No Senado, a divisão é mais clara. A direita ocupará 68 cadeiras. A esquerda, 79 – e 8 senadores são independentes.

"A direita conseguiu uma boa representação no Congresso, recuperando poder de veto, mas também há uma grande bancada da esquerda. Dentro dela está a centro-esquerda, que terá de definir qual será o seu papel nesse Congresso", avalia Pamela.

Para o cientista político da ESPM-SP Paulo Ramirez, será preciso acompanhar como essas alianças serão feitas. "Qualquer um que seja eleito terá de negociar para formar uma maioria e isso poderá ser feito com distribuição de cargos, acordos entre partidos que não têm uma relação ideológica."

Uma primeira pesquisa para o segundo turno, do instituto Cadem, aponta um empate, com Kast e Boric com 39% dos votos. Por isso, os dois já começaram a correr para o centro.

"A tendência de Boric é atenuar o discurso, tanto que, na semana passada, ele questionou a eleição na Nicarágua, após uma polêmica com o Partido Comunista. As negociações já começaram, mas o cenário é incerto", explica Ramirez.

<b>APOIOS</b>

O fiel da balança pode ser o candidato Franco Parisi, do Partido do Povo, de centro-direita. O economista de 54 anos ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com mais de 800 mil votos, após uma campanha digital feita do Alabama, nos EUA, com duras críticas à classe política tradicional e à elite chilena. "Parisi é filho de vítimas da ditadura de Augusto Pinochet. Ele não dará o apoio fácil a Kast. Seu partido deve anunciar esta semana qual será a posição no segundo turno", diz Ramirez.

Yasna Provoste, do Partido Democrata-Cristão, de centro-esquerda, que ficou em quinto lugar, com 11% dos votos, já anunciou apoio a Boric. E Sebastián Sichel, candidato do presidente Sebastián Piñera, que terminou em quarto lugar, com 12% dos votos, declarou apoio a Kast.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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