O embaixador da Indonésia no Brasil foi chamado ao Itamaraty no final da tarde deste sábado para receber uma carta de repúdio do governo brasileiro em relação à execução do brasileiro Marco Archer. Na carta, o Brasil manifesta “profunda inconformidade” com a execução e com o fato de que “gestões do mais alto nível e apelos presidenciais à clemência” foram ignorados pelas autoridades indonésias.
O governo brasileiro argumenta que a decisão de manter a execução do brasileiro está em franco contraste com as relações de amizade e cooperação entre os dois países. O ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, também convocou uma entrevista coletiva para comentar o fato.
“Os acontecimentos são uma sombra sobre as relações bilaterais”, afirmou. Segundo ele, a execução cria uma animosidade e dificuldades nas relações entre os dois países.
O ministro lembrou que, ao longo do processo iniciado em 2003, foram esgotados todos os recursos legais dentro do ordenamento jurídico da Indonésia, além de terem sido enviadas ao governo daquele País seis cartas dos presidentes do Brasil (Lula e Dilma Rousseff). Vieira afirmou que as gestões do governo brasileiro sempre foram baseadas em princípios humanitários, sem jamais ter sido questionado o direito do governo indonésio de punir os crimes cometidos por Archer em seu território.
“Nunca discutimos a acusação que sofreu o cidadão brasileiro. Mas a clemência e a comutação da pena seriam medidas esperadas”, afirmou.
O ministro destacou que o embaixador brasileiro em Jacarta estará voltando ao Brasil nas próximas horas. Ele disse que ao chamar o embaixador para consulta, no jargão diplomático, o Brasil expressa o momento de tensão nas relações bilaterais.
Vieira afirmou que Archer sempre teve assistência do consulado brasileiro e foi atendido por advogado designado para acompanhar o processo. O ministro confirmou que uma tia do brasileiro teve autorização para visitá-lo antes da execução e que a família tomará as decisões sobre o sepultamento do brasileiro. Archer foi executado por crime de tráfico de drogas.
TV Globo
O Itamaraty informou que a equipe da TV Globo, que teve o passaporte apreendido pelo governo da Indonésia, está recebendo a assistência necessária pelo consulado brasileiro, mas que, nesse momento, a prioridade era acompanhar o processo de execução.
O secretário executivo do Itamaraty, Sergio Danesi, disse que há um problema com o visto dos jornalistas. Eles estariam usando visto de turista, enquanto trabalhavam na região onde ocorreu a execução. “Isso precisa ser esclarecido”, disse Danesi.
Segundo ele, os jornalistas foram encaminhados ao hotel e não correm risco de vida. O repórter da TV Globo, Márcio Gomes, e um cinegrafista da mesma empresa, tiveram seus passaportes apreendidos pelas autoridades da Indonésia, segundo informações do Itamaraty. Os jornalistas estavam em Cilape, no local onde balsas saem para a ilha de Nusakambangan, onde o brasileiro Marco Archer e outras cinco pessoas seriam executados neste sábado.