Estadão

G-20 suaviza tom contra Rússia em documento final de cúpula na Índia

Os países do G-20 decidiram abrandar o tom ao tratar da guerra na Ucrânia com objetivo de chegar a um comunicado conjunto de consenso na Cúpula em Nova Délhi. Os países ocidentais aliados da Ucrânia precisaram fazer concessões para incluir palavras que agradam a Moscou.

Os líderes reunidos na Índia aprovaram a remoção de um trecho inteiro do texto que exigia a "retirada total e incondicional das tropas russas do território ucraniano". O comunicado não fala mais em condenação da guerra, nem sequer cita a Rússia.

Antes, o G-20 afirmava que, embora houvesse visões distintas sobre o conflito e sobre as sanções decorrentes dela contra os russos, a maioria dos membros condenava fortemente a guerra. A declaração anterior citava ainda que a maioria dos países "lamentava nos termos mais veementes a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia".

A Declaração de Líderes de Nova Délhi foi adotada neste sábado, 9. O primeiro-ministro da Índia, Nadrendra Modi, anunciou que os líderes das principais economias do mundo haviam chegado a um acordo.

Nos últimos dias, os diplomatas que coordenam as negociações se debruçaram sobre os temos do texto. As conversas haviam travado justamente no assunto da guerra, embora houvesse entraves também no conteúdo sobre a redução do uso de combustíveis fósseis, depois superados.

Os russos estavam dispostos a bloquear o avanço da declaração de líderes. No ano passado, ela ficou pronta de última hora e incluiu uma menção dura contra a Rússia, por maioria de votos, o que não é o costume. Moscou protestava contra isso, e dizia que essa era uma prática forçada pelos países do G-7, liderados pelos Estados Unidos, que tentavam impor a "ucranização" da agenda global, desconsiderando seus argumentos.

O G-20 também menciona agora que é o "principal fórum para cooperação econômica internacional", exatamente como argumenta a diplomacia chinesa, numa forma de explicitar que os assuntos de geopolítica e guerra deveriam ficar em segundo plano nas reuniões do grupo.

Com anúncio de última hora, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, foram os dois principais ausentes da cúpula em Nova Délhi. Eles enviaram representantes.

O G-20 também lembrou que cada países tem posições próprias, já manifestadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas e na Assembleia Geral da ONU e que "todos os Estados devem agir de forma consistente com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, na sua totalidade".

O G-20 lembrou ainda que a guerra na Ucrânia causa sofrimento humano e impactos negativos na segurança alimentar e energética, bem como nas cadeias de suprimento, na estabilidade financeira, na inflação e no crescimento econômico. Além disso, reconheceram que a guerra tornou mais complicadas ações ambientais, especialmente nos países em desenvolvimento, que se recuperam ainda da pandemia da covid-19 e suas consequências econômicas. Mais uma vez houve divergências de avaliação e visão no assunto.

"Apelamos à cessação da destruição militar ou de outros ataques a infraestruturas relevantes", diz o comunicado final. "Vamos nos unir no esforço para enfrentar o impacto adverso da guerra na economia global e saudamos todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiam uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia."

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