A insegurança alimentar se manteve em nível "muito alto" nos últimos três anos (2021-2023), disse nesta quarta-feira, 24, Qu Dongyu, diretor geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). Segundo Dongyu, a necessidade de financiamento para combater a fome é da ordem de trilhões de dólares.
Qu Dongyu discursou no evento "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo", realizado em paralelo às reuniões do G20 no Rio de Janeiro. O Brasil saiu do mapa da fome em 2014 e retornou em 2022, conforme a ONU.
"Tivemos insegurança alimentar em nível muito alto por três anos consecutivos. Mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo encararam a fome em 2023, e mais 2,3 bilhões passavam por segurança alimentar. Há uma projeção de que 580 milhões de pessoas ainda passarão fome até 2030", comentou Dongyu a respeito dos dados levantados pela ONU no último triênio.
O evento marcou o lançamento do relatório "O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI)". Conforme o estudo, cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África.
A fome diminuiu durante dois anos consecutivos no sul da Ásia e na América do Sul, disse o executivo, citando que 44 milhões de pessoas no Sul da Ásia conseguiram melhorar em relação a 2021. Mas na África a fome está crescendo desde 2015 e 58% passam por insegurança alimentar.
Qu alertou que é preciso pensar em aspectos econômicos e nas guerras e afirmou que a pandemia piorou a situação em regiões críticas.
"A necessidade de financiamento é de trilhões de dólares", estimou. "Precisamos de serviços financeiros adequados para combater a fome", afirmou. "Pedimos a todos os parceiros que apoiem esses países com financiamento", acrescentando que sem o setor privado não será possível avançar no combate à fome e desnutrição
O relatório da FAO adverte que o mundo está "falhando gravemente" em alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, Fome Zero, até 2030. E mostra que o mundo retrocedeu 15 anos, com níveis de desnutrição comparáveis aos de 2008-2009.
Houve progresso em algumas áreas específicas, como atraso no crescimento infantil e amamentação exclusiva, mas um "número alarmante" de pessoas continua a enfrentar insegurança alimentar e má nutrição, já que os níveis globais de fome estagnaram por três anos consecutivos, com entre 713 e 757 milhões de pessoas desnutridas em 2023 – aproximadamente 152 milhões a mais do que em 2019, considerando-se a faixa intermediária (733 milhões).