No epicentro da crise institucional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem procurado exercer um papel de mediador na relação conflituosa do Executivo com o Judiciário, sem deixar de tomar decisões que impuseram ao presidente Jair Bolsonaro significativas derrotas. A exposição gerada pelos episódios de confronto entre os poderes ajudou a consolidar Pacheco como um potencial pré-candidato à Presidência da República no ano que vem. De forma mais discreta, ele vem, ao mesmo tempo, trabalhando para consolidar os laços com o PSD e ampliar seu capital político em Minas.
Ainda no DEM, Pacheco articula a migração para o partido do ex-ministro Gilberto Kassab – que age para incluí-lo no cenário da disputa pelo Palácio do Planalto. O presidente do Senado nomeou para seu gabinete o presidente do PSD em Minas e secretário nacional da legenda, Alexandre Silveira.
Ex-presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-deputado ligado ao Centrão, Silveira ocupa o cargo de diretor de Assuntos Técnicos e Jurídicos, o principal na hierarquia da presidência do Senado.
Ele e o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Julvan Lacerda – assessor sênior de Pacheco -, se dedicam a receber grupos de dezenas de prefeitos mineiros, sempre acompanhados do deputado estadual ou federal da região, que deixam o gabinete do presidente do Senado com a promessa de repasse de verbas do Orçamento para as áreas de saúde e pavimentação de vias urbanas de suas regiões.
O líder do PSD na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Cássio Soares (PSD), calcula que o gabinete de Pacheco tenha recebido cerca de 700 prefeitos do Estado nos últimos três meses. Minas possui 853 municípios. "Levei (ao gabinete de Pacheco), no fim de julho, um grupo de 30 prefeitos de municípios do sul e do sudoeste do Estado, que compõem a minha base eleitoral. Fomos atendidos pelo Alexandre (Silveira)", disse o deputado estadual.
Segundo Soares, o prefeito de Passos (MG), Diego Oliveira (PSL), recebeu a promessa de aporte de R$ 2 milhões para investimentos. Prefeitos de municípios menores da mesma região saíram com promessa de verbas de R$ 500 mil.
A prefeita de Uberaba (MG), Elisa Araújo (Solidariedade), acompanhada do deputado Zé Silva (Solidariedade), fez parte de um grupo de duas dezenas de políticos de Minas Gerais que foi recebido por Silveira no gabinete da presidência do Senado, no último dia 18. Elisa conheceu o gabinete de Pacheco, tirou fotos, gravou vídeo com Silveira, saiu de lá com a promessa de uma verba de R$ 6 milhões para o município e retornou a Uberaba.
No dia seguinte, a prefeita atendeu a imprensa local para anunciar o aporte de recursos no município de 337.092 habitantes. Ela também publicou vídeo feito no gabinete de Pacheco nas redes sociais da prefeitura, ao lado de Silveira. "São R$ 6 milhões. Com esse dinheiro vamos conseguir construir o nosso Samu regional e comprar equipamentos de hemodinâmica", afirmou Elisa. "Agradecemos ao senador Rodrigo Pacheco pelo empenho."
O prefeito de Alterosa (MG), Marcelo Nunes de Souza (PSD), por sua vez, recebeu a promessa de recursos de R$ 500 mil para investir em saúde e pavimentação de vias urbanas do município. Souza, que cumpre seu terceiro mandato como prefeito, foi recebido no gabinete de Pacheco, por Silveira, há duas semanas. Ele levou um grupo de 30 políticos de Minas.
"Estou em meu terceiro mandato e nunca tivemos as portas do Senado abertas, como tem acontecido desde que Pacheco assumiu a presidência. Essa descentralização dos recursos para os municípios, protagonizada por ele, tem sido um alívio nesse momento de grandes dificuldades", afirmou Souza.
Principal liderança do PSD em Minas, o ex-governador e senador Antônio Anastasia avaliou que o Estado, que é o segundo maior colégio eleitoral do País, é estratégico para consolidar uma eventual candidatura de Pacheco à Presidência da República. "Se o Rodrigo (Pacheco) decidir pela candidatura, e eu espero e torço para que ele se decida nesse sentido, ele sairá forte em Minas Gerais", afirmou Anastasia. "Em todas as eleições presidenciais, desde a redemocratização, o candidato que venceu em Minas Gerais venceu no Brasil."
Na avaliação de Anastasia, "o País precisa de pacificação" e o presidente do Senado "tem a qualidade necessária para promover essa pacificação". "Tenho defendido uma candidatura de centro, de alguém que tenha um perfil de bom senso, de equilíbrio, de diálogo, de ponderação, de responsabilidade (…). Nós temos uma boa opção." Anastasia vê Pacheco como a opção de "alguém para construir pontes em vez de trincheiras".
Aposta. Kassab já dá como certa a filiação de Pacheco ao PSD e a candidatura do senador pela legenda ao Palácio do Planalto. "Ele está sendo muito bem aceito entre os formadores de opinião", declarou o ex-ministro.
O presidente do Senado é considerado a aposta mais ousada de Kassab, que também articula lançar nomes como o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, nas disputas do ano que vem.
Eleito em fevereiro para o comando do Senado, Pacheco contou com o apoio de Bolsonaro e de dez partidos, entre os quais siglas de oposição, como PT, Rede e PDT. A articulação que o elegeu expõe o caráter "equilibrista e calculado" dos seus gestos à frente do Congresso.
Pacheco foi alvo de críticas de senadores oposicionistas e independentes por não instaurar a CPI da Covid. Ele considerava "inapropriada" a investigação parlamentar, mas acatou determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, e a comissão foi implementada. Pacheco ainda tentou atuar como ponte para uma retomada do diálogo entre o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, e Bolsonaro, sem sucesso. Na quarta-feira passada, ele rejeitou o pedido do presidente da República para abrir processo de impeachment contra o ministro da Corte Alexandre de Moraes "por falta de justa causa". Tornou-se alvo também de Bolsonaro.
Procuradas pelo Estadão, as assessorias de Pacheco e Silveira confirmaram as reuniões com os políticos mineiros, recebidos nos últimos três meses. Eles, porém, não quiseram dar entrevistas. Julvan Lacerda não respondeu aos contato da reportagem.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>