Gabriela Duarte está de volta à TV. Depois de dois anos morando em Nova York, com o marido, o fotógrafo Jairo Goldflus, e os dois filhos, a atriz paulista de 43 anos se dedica novamente a uma novela inteira, o que ela não fazia desde Passione (2010). Sua mais recente aparição na televisão havia sido em A Lei do Amor, de 2016, fazendo participação especial na primeira fase da trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. Agora, Gabriela integra o grande rol de personagens femininos da nova novela das 6, Orgulho e Paixão, de Marcos Bernstein, com direção artística de Fred Mayrink, que estreia nesta terça, 20, na Globo.
Livremente inspirado na obra da escritora Jane Austen, de Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, só para citar alguns dos livros mais populares da autora inglesa – e que, inclusive, viraram filmes -, o folhetim de Bernstein se situa no Brasil do início do século 20.
Gabriela interpreta Julieta Bittencourt, uma mulher rígida, que, sozinha, ergueu seu império e criou o filho, Camilo (Maurício Destri).
“Naquele momento, ela se fez profissionalmente sozinha, embora as pessoas achem que ela herdou tudo do marido, porque é viúva. Existe uma crença da sociedade de que ela é a rainha do café por causa do marido, e o público vai descobrindo, ao longo desses primeiros capítulos, que não, que ela construiu o que tem com seu esforço”, conta Gabriela, à reportagem. “Então, é uma mulher que já tem uma força, que tem de brigar naquele tempo em que era tudo tão difícil para a mulher. E continua sendo, mas imagina naquela época, quando ela tinha de lutar contra o peso daquele patriarcado?”
Rígida, ama o filho, mas não consegue demonstrar seu carinho por ele. Para Gabriela, defensora de sua personagem, a amargura de Julieta tem origem em seu passado sofrido. Por isso, não a vê como vilã, diferentemente da sócia de Julieta, a dissimulada Susana (Alessandra Negrini). “Não acho que a Julieta seja vilã. Não é uma defesa minha da personagem, o público vai enxergar que ela tem seus motivos. Ela foi abusada moralmente, sexualmente, foi maltratada pela vida, foi vítima de um estupro (pelo marido), esse filho foi fruto de um estupro. Então, isso dá para ela um lugar da frieza.”
A parceria de Julieta e Susana, aliás, promete movimentar a trama. “Assumidamente, a vilã é a Susana”, afirma. “A Susana, que é a grande aliada de Julieta, seria, por uma questão social da época, a dama de companhia – mulher viúva, naquela época, tinha que ter a companhia de outras mulheres. E Julieta viu nela uma aliada profissional, que não tem escrúpulos. Então, digo que Julieta bola tudo, faz tudo de forma legal, mas, o trabalho sujo, ela deixa para Susana.” Isso faz de Julieta, portanto, a cérebro dessa dupla? “É, talvez ela seja”, responde a atriz. “Mas, em nenhum momento, ela pede ou sugere que a Susana aja de determinada forma. O método que a Susana vai usar não é discutido por elas. Julieta só dá ordem.”
Gabriela, ao lado de Alessandra Negrini, faz parte da linha de frente das personagens femininas da história, da qual fazem parte também as cinco irmãs da família Benedito, a mãe delas, Ofélia (Vera Holtz), e a amiga do clã, Ema (Agatha Moreira). Por coincidência, ou não, atualmente, as mulheres estão numa corrente de sororidade, de união.
“Não acho nem que seja uma coincidência, acho que é um tema superatual, uma novela feminina que fala de mulheres fortes, que estão começando a entender que podem ser donas da sua vida”, avalia Gabriela. “Imagina hoje que a gente continua na luta. São conquistas que estão acontecendo diariamente. A gente passou a vida ouvindo que não podia. Talvez esteja na hora de entender que sim, que pode, não precisa depender de ninguém para conquistar o próprio sonho, seja ele do tamanho que for.”
Mãe e filha
Gabriela conta que soube de Julieta quando estava se preparando para retornar ao Brasil após a temporada nos EUA – que, segundo ela, fez parte de um projeto pessoal deles, “de estreitar laços, um contando com o outro”. Ela já tinha morado nos EUA; o marido, em Israel. Mas foi a primeira fez deles nessa configuração familiar morando fora do Brasil. “A gente acha que isso para criança é muito rico. Plantar uma semente, para eles viveram uma realidade diferente. E deixar eles escolherem o que quiserem fazer, viver, ser.”
A família está de volta à rotina, em São Paulo, mas as gravações de Orgulho e Paixão ocorrem no Rio. É de lá que Gabriela fala à reportagem por telefone. Estava na casa da mãe, a atriz Regina Duarte, que se despediu de sua personagem, Madame Lucerne, da novela das 6 anterior, Tempo de Amar, que chegou ao final ontem. Agora, Regina passa o bastão para a filha no horário. “A gente convivia um pouco entre o início da minha novela e final da dela. Para mim, é um pouco triste, porque era uma oportunidade de a gente conviver mais do que a gente convive, no dia a dia. Agora ela está voltando para São Paulo”, lamenta. “Mas a vida da gente sempre foi assim.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.