O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira, 16, que o novo sistema de meta contínua de inflação apenas adequa o arcabouço institucional do País àquilo que já era a prática na condução da política monetária, já que o horizonte relevante muitas vezes supera o ano-calendário.
Em um evento organizado pelo Sicredi em Anápolis (GO), Galípolo disse que não vê entraves para a comunicação do BC sob o novo regime. O modelo contínuo, válido a partir do ano que vem, estabelece que o alvo será acompanhado com base no IPCA acumulado em 12 meses. Se ele extrapolar a banda de tolerância por seis meses seguidos, vai se considerar que a meta foi perdida.
"A função de reação do Banco Central vai sempre ser muito anterior, seja com medidas ou com comunicação, a este evento dos seis meses, para que a gente esteja zelando e com a política monetária perseguindo a meta", disse, lembrando que o Brasil era um dos únicos dois países que ainda usavam uma meta de ano-calendário.
Ele acrescentou que, hoje, o BC tem se mostrado mais cauteloso com a gestão da política monetária, apesar de dados benignos de inflação corrente. "Nós estamos olhando para a frente, quais são as expectativas e o quanto as projeções e expectativas estão se descolando da meta", afirmou.
<b>Copom</b>
Galípolo garantiu que a convergência das expectativas para o centro da meta, de 3%, é uma "prioridade" da autoridade monetária. Segundo ele, o BC vê no Focus um subsídio de "relevância enorme" para a sua tomada de decisão.
"É uma prioridade, e não só nesse momento", disse Galípolo, em evento organizado pelo Sicredi em Anápolis (GO). "A gente teve um ponto em que estava expressando preocupação com a desancoragem em 50 <i>basis points</i>. Sempre foi um desafio", completou.
Ele explicou que, mesmo nessa fase anterior, o BC já tinha dificuldade de avaliar as causas por trás da desancoragem. Segundo o diretor, havia a percepção de que, se os números de inflação corrente melhorassem, as projeções do mercado poderiam acompanhar. "Na verdade, a dissonância aumentou", disse.
Galípolo relatou ter ouvido críticas de que o BC dá muito ou pouco peso ao Focus, mas afirmou que a autoridade monetária tem uma institucionalidade que "sabe consumir" as informações do relatório. E afirmou que o fato de o Comitê de Política Monetária (Copom) mencionar mais vocalmente um assunto não necessariamente significa que esse tema tem mais peso na sua análise.
"Nós estamos simplesmente tentando ser transparentes e comunicar aos agentes o que está nos preocupando mais neste momento e o que está nos chamando mais atenção", disse.
<b>Juros no futuro</b>
Galípolo evitou oferecer pistas sobre a visão da autoridade monetária para os juros no futuro. Ele afirmou que o aumento da incerteza e da adversidade exige que não haja um <i>forward guidance</i>.
"A gente passou a retirar esse <i>guidance</i> e ficar totalmente com todas as alternativas em aberto justamente porque a incerteza aumentou, a adversidade aumentou", disse. "Isso passou a nos colocar nessa situação em que estamos mais dependentes de dados, não oferecendo nenhum tipo de sinalização sobre o futuro."
Indagado sobre o cenário alternativo apresentado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) – segundo o qual, com a Selic estável em 10,5% até o fim de 2025, a inflação do ano que vem seria de 3,1%, contra 3,4% no cenário de referência, com juros menores -, ele disse apenas tratar-se de uma maneira de "construir um cenário."
"Mas basta dizer assim: a gente teve de um RTI para outro uma mudança de câmbio de R$ 4,95 para R$ 5,30, e quando sai o relatório já está em um outro patamar de câmbio, que tem apresentado uma volatilidade grande; e ainda estamos aguardando para ver esses movimentos de acomodação", disse. "Então, acho que, nesses momentos, estamos abertos e já aguardando para esperar como é que os desdobramentos vão se dar."