O analista Victor de Carvalho Lourenço, de 24 anos, trabalha na Alameda Eduardo Prado, nos Campos Elísios, e cansou de testemunhar casos de roubo de celular de forma quase idêntica nas ruas cheias do centro da capital paulista: de bicicleta, ladrões escolhem a vítima e, com tapas, arrancam o aparelho da mão delas, que geralmente andavam distraídas – justamente olhando para a tela do aparelho. Mas a recorrência não evitou que o próprio Lourenço virasse parte da estatística. Aliás, não virou: resolveu não registrar o caso na polícia: “Não fiz porque não serve para nada”, argumenta.
Há três meses, ele chegava ao trabalho quando o iPhone 6S foi tomado da sua mão por uma dupla que não conseguiu identificar. “Sempre via muitos casos acontecendo e pensava que nunca ia me afetar.” O aparelho custa mais de R$ 2 mil, mas o prejuízo não fez com que ele mudasse seu hábito de falar e mandar mensagens enquanto anda. “Continuo falando da mesma maneira, mas agora estou mais atento e seguro o celular com força e com a mão toda. Mas não vou ficar me policiando. Tenho o direito de usar.”
O padrão das bicicletas, no entanto, não é uma regra. Em plena Avenida Paulista, próximo da esquina com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, o estudante Azaf Valadeiros, de 25 anos, foi surpreendido, há dois meses, por um homem que, de moto e arma em punho, lhe exigiu o aparelho. “Já tinha seguro. Agora, fiz outro”, conta. O crime aconteceu pela manhã. O seguro para telefone de R$ 4 mil saiu por R$ 1,5 mil. E ele registrou o caso. A incidência dos casos no centro se destaca ao se comparar o tamanho da Rua Augusta e da Avenida Paulista – respectivamente segundo e terceiro lugar no ranking das vias com mais registro. Juntas, elas têm 15 km de extensão. Todas as demais ruas com mais registro são grandes avenidas que ligam o centro à periferia.
Periferia
Na zona leste, o comerciante Nelson Araújo de Lima, de 57 anos, destaca a falta de atenção da população com o aparelho. Na Avenida Sapopemba, ele vende espetinhos ao lado de uma das paradas de ônibus mais visadas da região, segundo o levantamento do Estado. O carrinho, com cinco lâmpadas incandescentes, ajuda a iluminar o ponto. Ele diz saber de seu poder de proteção. “A gente ajuda o pessoal, né? Fica até mais tarde e sempre está atento. Mas tem gente que fica com o celularzão na mão e aí não tem jeito”, diz, antecedendo a ponderação. “Só que também é chato, né? Você tem um negócio que é seu e não pode usar.”
Na periferia, segundo os relatos ouvidos pela reportagem, as pessoas que ou acordam cedo ou voltam muito tarde, e esperam pelo transporte no escuro, são os maiores alvos. “O problema aqui eu vou dizer qual é: as meninas vacilam muito, ficam no zap e daí os caras só dão o bote”, diz o segurança José Wellington Araújo de Lima, de 47 anos, que trabalha como segurança para comércios da Sapopemba há 15 anos. Numa noite quente de terça-feira no fim de agosto, também teve o aparelho roubado. / B.R., M.A.C. e C.L.