Variedades

Garoto tem centenário comemorado com show, documentário e livro de partituras

Guinga, apelido e nome artístico adotado por Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, só foi ouvir uma música tocada pelo próprio Garoto “já velho”. “Eu já estava casado”, ri o carioca considerado um dos maiores e melhores violonistas da atualidade. E Guinga fala daquele considerado por ele o “violonista perfeito”, cuja obra ele conheceu pelo amigo da família Haroldo Hilário Bessa.

Assim é Aníbal Augusto Sardinha, músico que ganhou o apelido de Garoto porque já tocava na Rádio Nacional como “moleque do bandolim” ou “garoto do banjo”, quando tinha ainda 11 anos. Nascido em São Paulo em 1915, Garoto morreu no Rio de Janeiro em 1955. Partiu precocemente antes mesmo de completar o 40.º aniversário, viajar para a Europa e fazer do seu nome (ou apelido) algo reconhecido por aqueles que não são estudiosos do violão ou dos outros tantos instrumentos de corda dominados por Sardinha. Em 2014, às vésperas do centenário do músico, nasceu o projeto que desembocou em três frentes e, dois anos depois, começa a colocar Garoto no panteão dos grandes.

Nos dias 23 e 24 de setembro, sexta e sábado, o show 100 Anos de Garoto, o Gênio das Cordas, dá início aos trabalhos dessa grande homenagem ao músico paulistano. No palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, diferentes gerações de músicos se apresentarão. Passam por lá, de grandes como o já citado Guinga, Paulo Bellinati, Yamandu Costa, a dupla Henrique Cazes e Marcello Gonçalves e o Moderna Tradição, até nomes da nova cena paulistana, como o Caixa Cubo Trio, o guitarrista Guilherme Held e Xênia França. Os ingressos começaram a ser vendidos na última terça-feira, dia 13.

“Muita gente diz que o Garoto era o precursor da bossa nova”, avalia Yamandu, que continua: “E eu acho que ele foi muito mais do que isso. Muito mais moderno do que a própria bossa nova”.

Diretora-geral do show, Myriam Taubkin também atua nas outras frentes (filme e livro). Figura importante para manter viva a memória da música brasileira, a pesquisadora e produtora ouviu o nome de Garoto como referência a violonistas de diferentes pontos do País, quando realizada a série Violões, como parte do projeto Memória Brasileira. “Eram 23 participantes. E todos eles citavam o Garoto como uma referência”, relembra Myriam, responsável por lançar, em 2005, o disco Viva Garoto, com algumas gravações inéditas do violonista.

Em 2014, teve início o projeto do documentário, contemplado pelo edital Natura Musical e que deve chegar às telonas no ano que vem.

O projeto é assinado pelos amigos Rafael Veríssimo, que assume a cadeira de diretor, e ergue a obra ao lado de Henrique Gomide (pianista do Caixa Cubo Trio, diretor musical do show e do documentário), Lucas Nobile (pesquisa, entrevistas e produção musical). Garoto ficaria feliz em saber que os três jovens se juntaram para tomar cerveja e debater sua obra. Henrique havia feito mestrado sobre Garoto e, desses encontros, também nasceu a ideia de fazer um livro com partituras do músico paulistano, em um lançamento com a parceria do Sesc e do Instituto Moreira Salles, com 67 partituras, inéditas e quase desconhecidas. “Garoto era tímido, não tinha essa personalidade de artista”, diz Gomide. “Ele impressionava quando tocava.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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