Mundo das Palavras

Garrincha mudou o futebol

Garrincha foi um caso único dentro da História do Futebol, tal a dimensão de seu talento, garantem dois verdadeiros oráculos deste esporte: Nilton Santos e Armando Nogueira. O primeiro foi bicampeão mundial e se tornou conhecido como “Enciclopédia do Futebol” graças à profundidade e variedade dos seus conhecimentos. No livro “Minha bola, minha vida”, ele escreveu: “Garrincha é um só. Não existe, não existiu, nem existirão dois”. O segundo, como cronista esportivo, produziu dez livros, além de colunas lidas diariamente em 62 diferentes publicações do Brasil. No livro “Bola na rede”, Armando registrou: Garrincha foi “o mais espetacular jogador que o futebol brasileiro já produziu”.
 
Nilton – parceiro de Garrincha na Seleção Brasileira e no Botafogo por mais de uma década -, presenciou o momento em que uma celebração típica dos públicos de touradas diante das habilidades do toureiro se transformou em uníssona manifestação de torcedores de futebol nos estádios. O “olé”apareceu no futebol provocado pelos dribles incessantes de Garrincha em Vairo, lateral esquerdo do River Plate e da Seleção Argentina, num jogo disputado pelo Botafogo em fevereiro de 1958, no México. 
 
Garrincha, porém, embora impiedoso com seus dribles desconcertantes capazes de derrubar adversários, não foi apenas o introdutor do desmoralizante “olé” no futebol. De seus pés nasceu igualmente a mais bela manifestação de lealdade deste esporte, durante um jogo do Botafogo contra o Fluminense, no dia 27 de março de 1960.  “Pinheiro, seu adversário, ao rebater uma bola, estourou um músculo e caiu”, relembra Roberto Freire, na matéria “Obrigado, Garrincha”, publicada por Realidade em março de 1968. Já na área adversária, Garrincha poderia facilmente tentar marcar um gol. Contudo, quando viu“Pinheiro caído, sofrendo – continua Freire -, Garrincha tranquilamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, atirou a bola para fora”.
 
Aquele seu gesto inesperado foi entendido por Altair, companheiro de equipe de Pinheiro. Que, aoreiniciar o jogo, fazendo o arremesso da bola para dentro do campo, o retribuiu, jogando-a em direção dos jogadores do Botafogo. Assim, “sem que nenhuma federação obrigasse, sem que nenhum juiz exigisse”, a partir daquele dia – prossegue Freire -, todos os jogadores do mundo passaram a repetir o gesto de Garrincha:quando um adversário se machuca, eles chutama bola para fora do campo.    
 

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